Vinícius Sassine
Publicação: 02/08/2011 09:24 Atualização: 02/08/2011 09:41
O grupo liderado por Micheletto, que presidiu a comissão especial criada na Câmara para avaliar o Código Florestal, deu início à nova ofensiva por meio de um requerimento de informação encaminhado à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em 6 de julho. No documento, remetido pelo presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Lira Maia (DEM-PA), Micheletto cobra da ministra informações detalhadas sobre todos os parques nacionais criados entre 1988 e 2011.
Os dados solicitados incluem as áreas dos parques, os valores pagos aos produtores rurais a título de indenização e os nomes dos servidores responsáveis pelo processo de criação da unidade de conservação. Na justificativa do requerimento, os deputados informam que a Câmara realizará um estudo para alterar os procedimentos de criação de parques. “Os procedimentos devem ser menos traumáticos para as famílias dos produtores rurais.” A reportagem apurou que o estudo citado é o projeto de lei que pretende transferir do Executivo ao Legislativo a competência para criar novos parques.
Izabella Teixeira e o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Curt Trennepohl, foram convidados pela Comissão de Agricultura da Câmara para discutir a forma como são definidas as novas unidades de conservação. A reunião está confirmada para a semana que vem, no dia 9. Dentro do ministério, a interpretação é de que a proposta de Micheletto, se aprovada, vai dificultar a criação de novas unidades de conservação e atrapalhar a meta assumida pelo Brasil na última Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Biodiversidade (COP-10), no ano passado. Os países participantes acertaram elevar as áreas terrestres protegidas de 12% para 17% dos territórios.
Quase 9% do território brasileiro está protegido em unidades de conservação. Sob a responsabilidade da União, estão 310 unidades. Cerca de 20 milhões de hectares precisam ser regularizados. “Há um problema histórico de disputa com grileiros e posseiros. É mais conveniente que o Executivo crie os parques, mas não cabe essa disputa com o Congresso”, afirma o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello. O ICMBio é responsável pelas unidades de conservação da União. Para o deputado Micheletto, a forma como os parques são criados pode render até mesmo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). “Se a ministra não informar o que o Parlamento pediu, a CPI pode ser criada. Queremos a mesma coisa feita com o Código Florestal, com mais transparência.”
Confira o que muda com projeto que tira do Executivo poder para criar áreas de conservação:
Bancada ruralista tenta mudar a forma de criar unidades de conservação no país
» A legislação estabelece que compete ao Poder Público a definição de novos parques, por meio de decreto presidencial. Isso vale para parques, reservas biológicas, áreas de proteção ambiental (APAs) e outras oito categorias.
» No caso de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), basta uma portaria do ICMBio. A RPPN é uma propriedade particular e, por isso, não há necessidade de um decreto presidencial.
Como ficaria
» A definição das novas unidades de conservação ficaria sob a responsabilidade do Congresso Nacional, por meio de projetos de lei. A proposta tramitaria pelas diferentes comissões da Câmara ou do Senado até a aprovação em plenário.
» No Congresso, a bancada ruralista tem participação expressiva, com poder de determinar o rumo de votações em áreas de conflitos entre produtores rurais e ambientalistas. Foi o que ocorreu com o Código Florestal. A intenção desses deputados é garantir o pagamento das indenizações e evitar desapropriações de áreas produtivas.
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2011/08/02/interna_politica,242849/ruralistas-querem-tirar-do-executivo-poder-para-criar-areas-de-preservacao.shtml