Coordenação indígena exige justiça a crimes cometidos no conflito interno

Camila Queiroz, Jornalista da ADITAL

Entre 1960 e 1996, a Guatemala viveu um conflito armado interno entre governo e grupos guerrilheiros de oposição. Durante o período, estima-se que cerca de 45 mil pessoas desapareceram, um milhão foram deslocadas, 200 mil foram assassinadas, além dos milhares de casos de abusos sexuais, sobretudo contra mulheres indígenas.

A assinatura de um Acordo de Paz entre governo e Unidade Revolucionária Nacional (URNG) pôs fim ao conflito, mas concedeu anistia tanto para guerrilheiros quanto para militares que cometeram diversos abusos.

Para pedir justiça, a Coordenação e Convergência Nacional Maya Waqib’ Kej, organização indígena, lançou comunicado ontem (26) exigindo punição aos responsáveis pelo genocídio e pelas desaparições forçadas durante o conflito.

“A justiça é lenta, mas deve cumprir-se contra militares, ex-patrulheiros e poderes econômicos que, sob a proteção do Estado, massacraram, torturaram, violaram mulheres e fizeram desaparecer milhares de pessoas inocentes; entre eles, adultos, jovens e crianças”, ressaltam.

Apesar disso, a Coordenação se declara satisfeita com o avanço das ações legais contra responsáveis materiais e intelectuais pelos crimes. É o caso de Pedro García Arredondo, ex-prefeito de Nueva Santa Rosa, acusado de várias desaparições forçadas e do assassinato do candidato à presidência, Manuel Colom Argueta, em 1979.

“Expressamos nossa satisfação pela captura dessa pessoa e outros militares, entre eles altas patentes do Exército, acusados dos massacres que documentou a Comissão de Esclarecimento Histórico (CEH) no relatório ‘Memória do Silêncio’. Cada caso deve esclarecer-se para ressignificar a memória das vítimas e uma reparação integral aos familiares que o demandem”, afirmam.

A Justiça também capturou o general Mario Héctor López Fuentes e abriu juízo oral e público contra quatro militares acusados pelo massacre de 250 pessoas na comunidades Dos Erres, município de La Libertad, departamento de Petén.

“São casos que se convertem em primeiros passos na busca por justiça, dívida que o Estado tem com os familiares das vítimas e sobreviventes dos 36 anos de guerra”, analisam.

Por fim, a coordenação indígena exige que participem dos julgamentos fiscais e juízes honestos, dispostos a acabar com a impunidade e a demonstrar “vontade na aplicação da lei”. Sobre os militares, demanda que encarem a justiça “sem artimanhas legais e influência política”.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=58817

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