Agressão no trabalho tem novos formatos

Chegada da geração Y leva ao mercado diferentes formas de assédio, que incluem brincadeiras ofensivas e boicote. A reportagem é do jornal Folha de S.Paulo, 31-07-2011.

Receber medalhas na festa de confraternização da empresa é, na maioria das vezes, motivo de orgulho. Para Vivian Nascimento, 27, o prêmio significou o contrário. Nova em uma multinacional do setor de informática, a analista de suporte foi classificada pelos colegas como uma das piores funcionárias do departamento. Tudo com o aval dos chefes diretos.

Na festa de fim de ano de 2008 – na qual não foi porque estava de plantão -, recorda ela, foi organizada cerimônia com entrega de faixas e medalhas aos primeiros colocados em cada categoria. “Fui nomeada uma das funcionárias mais desesperadas, perdidas e sem noção da equipe”, conta ela. Nascimento foi demitida dois anos depois da “premiação”, em um corte de funcionários, e entrou com processo contra a empresa por assédio moral.

Com a chegada da geração Y (nascidos entre 1978 e 2000) nas empresas e a maior competitividade entre companhias, casos como o de Nascimento são cada vez mais comuns, apontam especialistas.

Contra o tempo

“Os jovens são intolerantes em relação a problemas no trabalho”, argumenta Roberto Heloani, professor de psicologia do trabalho da Fundação Getulio Vargas. “Além disso, são cada vez mais cobrados por resultados.”

A luta contra o tempo, afirma o professor, é um dos fatores responsáveis pelo assédio moral do chefe com seus funcionários. “Como muitos [desses gestores] são jovens, o assédio vem de formas diferentes, como brincadeiras ofensivas e boicote de trabalho [o empregado é excluído de projetos, por exemplo].”

Ser humilhado pelo chefe, no entanto, não é situação exclusiva no escopo do assédio moral no trabalho, destaca o advogado trabalhista Alexandre Lindoso. “Hoje os próprios colegas são responsáveis pela humilhação.” O motivo, explica, é o aquecimento do mercado, que aumenta a empregabilidade, mas incentiva o “espírito competitivo dos profissionais”.

Casos de assédio moral horizontal – quando o agressor não é chefe da vítima – já são reconhecidos pela Justiça. “Se o problema ocorreu embaixo do guarda-chuva da empresa, ela é a responsável”, esclarece Lindoso.

Dose dupla

Terezinha Rodrigues, 53, foi alvo dos dois tipos de assédio moral: foi humilhada por superiores e colegas. Contratada para atuar como auxiliar de codificação em um órgão público – como comissionada- , foi obrigada a trabalhar com malote e como auxiliar de portaria. “Os funcionários falavam que iam me dar um par de patins para eu trabalhar mais rápido”, diz. Em 2010, após 30 anos na empresa, foi demitida e entrou com processo na Justiça.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=45890

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