Assassino norueguês: racismo injustificável

Sidney Rezende

O serial killer norueguês Anders Breivik escreveu que o Brasil teria se tornado uma mistura de raças que se mostrou uma “catástrofe”. O texto dele em que desanca o nosso país e o considera inviável é mais uma peça do pensamento racista que toma conta de parte da Europa nórdica.

A pobreza existente nos países emergentes não é fruto da salada de etnias, e sim de raízes históricas atrasadas justamente porque os donos poder, que pensavam como Breivik, tentaram preservar a soberania de sua classe social sobre as demais.

O Brasil, por exemplo, demorou muito a optar por um modelo de desenvolvimento econômico mais modernizante, conforme sua época já exigia. O país patinou por muito tempo num modelo escravocrata, perverso e cruel.

A elite nacional, diga-se a bem da verdade de base europeia, e composta por brasileiros filhos de imigrantes portugueses, espanhóis, mais tarde holandeses e ingleses, não queriam abrir mão do controle sobre a mão-de-obra africana.

O Brasil chegou muito atrasado na compreensão de que a escravidão não era um avanço no sentido de nos levar ao desenvolvimento. Tanto é verdade que ainda hoje descendentes de senhores do engenho têm uma certa saudade do período em que sua força sobrepujava todas as outras. Vejam a composição do Congresso Nacional e constatem que muitos conservadores de hoje são saudosistas de ditaduras porque nelas eles não precisam dos controles da democracia para impôr suas vontades.

O conservadorismo brasileiro que obriga prestadores de serviço a usar o elevador dos fundos, que facilita humilhação das donas de casa sobre empregadas domésticas sem formação educacional, o preconceito contra a união de brancos e negros, as leis que possibilitam aos ricos recorrerem inúmeras vezes antes de pagar seus crimes na Justiça, tudo isso é uma herança do racismo e não fruto da “mistura caótica” que o assassino norueguês nos atribue como explicação para o que somos.

A ignorância de Anders Breivik já teve consequências trágicas, a morte de dezenas de inocentes e a sua própria perda individual da liberdade. Vai mofar na cadeia.

E não para por aí, a Noruega nunca mais será a mesma. A sensação de paz que eles imaginavam existir, dando-lhes a impressão de viviam numa ilha de tranquilidade, acabou.

O mundo é inseguro, violento e repleto de incertezas justamente porque existem pessoas com pensamentos fundamentalistas como Breivik e outros que acham que somente existe uma forma de viver e pensar. A deles.

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