BA – Professor atribui descaso com Plano Inclinado Gonçalves a racismo ambiental

O Plano Gonçalves está parado há seis meses e deve continuar por mais 90 dias para reparo na parte estrutural. Marco Aurélio Martins/Agência A TARDE

O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) recebeu na terça-feira, 19, laudo que conclui que as fissuras em encosta não  comprometem a estrutura do Plano Inclinado Gonçalves. O equipamento está fechado  há cinco meses e 18 dias.

O risco de instabilidade foi afastado, embora haja problemas de oxidação de ferragens das estruturas do prédio do 18º Batalhão da Polícia Militar, que fica ao lado do Plano Inclinado – e do próprio Plano. Há fissuras nas contenções que sustentam os imóveis e infiltrações no talude.

O problema pode ser sanado em três meses, informou o diretor de projetos, obras e restauro do Ipac, Paulo Canuto. Segundo ele, a empresa responsável pelo levantamento topográfico e geotécnico recomendou reforço das estruturas de contenção das construções “com colocação de vigas e tirantes e preenchimento de fissuras por injeção de concreto”.

Será, também, preciso rastrear pontos de infiltração de redes de águas e eliminá-los, remover entulho. “Não há fissura que comprometa a estrutura da edificação do Plano”, disse Canuto.

Caetano é fã – “Adoro o Plano Inclinado. Está no meu filme O Cinema Falado. É uma das riquezas do Brasil. Desde menino, eu amo esse transporte coletivo da cidade do Salvador, mais do que quase tudo na cidade e no mundo. Eu não sabia que estava desativado. Desde fevereiro? Incrível. Será que vão desfazer tudo o que esta cidade pôde ser?”, disse Caetano Veloso, que canta Salvador há tantos anos.

O ecônomo da Arquidiocese de Salvador, Monsenhor Adhemar Dantas, e pároco da Catedral Basílica, vizinha ao Plano, diz que está preocupado com a degradação da área. “Estou vendo a situação e me preocupo. E não são só os comerciantes que ficam com o prejuízo”, alarmou-se.

Acostumado a defender causas relacionadas a discriminação racial, o professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia Samuel Vida diz que é também possível associar o descaso com o Centro Histórico a um racismo ambiental, considerando-se o perfil dos usuários da área.

“Essa região passou a ser ocupada pela comunidade negra como resultado de uma política de redefinição de ocupação territorial por parte da elite e uma vez consolidada, o governo se desobriga progressivamente de cuidar da região, descumprindo as suas atribuições institucionais tanto no que concerne à tutela de direitos quanto à proteção do patrimônio”, adiantou o professor.

“Quando o interesse direciona-se a segmentos que não são vítimas de discriminação, as soluções são mais rápidas. Quando as obras interessam aos segmentos incluídos, conseguem-se recursos, removem-se obstáculos relativos a licenciamento ambiental. Quando se fala em intervenções que beneficiam essas populações há sempre escusas. Isso tem efeito desmobilizador, de tirar do circuito o imaginário das pessoas e o impacto imediato é sobre aquele segmento”, resumiu Samuel Vida.

“[A situação do Plano] é terrível por causa da população de Salvador. Para o turismo é catastrófico. Esse equipamento não é encontrado em qualquer lugar. Deveria funcionar impecavelmente”, bradou a guia de turismo Lise Silvany. Também o secretário estadual de Cultura Albino Rubim acha um absurdo a paralisação porque considera o Plano imprescindível para o Centro Histórico e para a cultura da cidade.

http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5746840

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