O governo brasileiro planejou a construção de complexos hidrelétricos com seis usinas na bacia do rio Tapajós e outras cinco na sub-bacia do rio Teles Pires, nos estados do Pará e Mato Grosso. Junto a esses complexos hidrelétricos estão em andamento os projetos de hidrovias que só poderiam ser viabilizadas com a criação de grandes reservatórios nos trechos naturalmente intransponíveis, de pedrais ou encachoeirados, característicos dos rios da Amazônia.
Um grande processo de ocupação industrial por empresas de fomento, processamento e distribuição de grãos está ocorrendo na bacia hidrográfica do rio Tapajós – incluindo os seus principais formadores, os rios Teles Pires e Juruena. Investimentos estão sendo direcionados para construção de terminais de armazenamento e de embarque, e grandes empresas de mineração e eletrointensivas se interessam por portos fluviais e hidrovias para ampliar a capacidade de transporte de carga. Em paralelo às atividades de extração madeireira estão sendo abertas novas rodovias que cortam unidades de conservação e terras indígenas, para escoamento de produtos extraídos da exploração dos recursos naturais.
A chamada “dimensão socioambiental” do desenvolvimento não foi considerada no planejamento e “novas-velhas” formas de ocupação econômica insistem em ignorar a biodiversidade e os direitos humanos. Em que estaria calcada a projeção da demanda para justificar um aparato logístico de terminais portuários e do transporte hidroviário industrial na Amazônia, usando o modelo europeu?
Um grande aparato chamado de Plano Hidroviário Estratégico (PHE)[3] foi apresentado nofinal de 2009 pelo Ministério dos Transportes e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT). O objetivo do plano que acabou integrando o PAC2 seria “levar aos rios os planejamentos feitos para a malha ferroviária do país” com linhas de financiamento do Banco Mundial[4], já contratadas.
O PHE investigou os principais corredores da Amazônia para criar hidrovias e analisar junto com a Agência Nacional de Águas (ANA) uma estratégia de desenvolvimento do transporte aquático. Já se articula a construção das novas hidrelétricas com eclusas para possibilitar a transposição de desnível e superar os obstáculos naturais dos rios. As chamadas Vias Navegáveis tornaram-se prioridade da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infra-estrutura Nacional do Congresso Nacional.
Entre os interessados na integração física e econômica dos estados e regiões brasileiras estão os setores de fertilizantes, bens de consumo, grandes exportadores de commodities, grandes grupos privados em infra-estrutura, indústrias eletrointensivas, empresas de energia – etanol, biodiesel, governos e as multinacionais – junto com o Ministério dos Transportes. Todos esses setores manifestam sua preocupação, essencialmente, com os elementos de infra-estrutura e os eixos integrados de transporte voltados ao mercado interno, exportação e importação[5].
Em dezembro de 2009 realizou-se o seminário “Portos e Vias Navegáveis: um olhar sobre a infraestrutura” [6], promovido pela Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infraestrutura Nacional com o apoio da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Entre os temas que foram tratados no seminário, estavam a privatização da operação portuária no Brasil para modernização e abertura da economia e a priorização do crescimento do transporte hidroviário, no Brasil, de 13% para 29% até 2025.
Todo esse plano de vias navegáveis faz parte das políticas e projetos do Ministério dos Transportes para a Amazônia que está em andamento desde 2009. Esse plano está articulado dentro de um Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT) que pretende incentivar a abertura de estradas vicinais para integrar a produção isolada aos eixos estratégicos de transportes. Sob pretexto do desenvolvimento sustentável do país e da preservação do meio ambiente o governo brasileiro está estruturando um portfólio de investimentos e identificando os chamados “vetores logísticos amazônico e centro-norte” [7], dentro daquilo que representaria a nova organização espacial da economia brasileira.
[1] O Brasil de Dilma. Acessado em 17 de janeiro de 2011.
[3] O Brasil de Dilma. Acessado em 17 de janeiro de 2011.
[4] Banco Mundial: linha de financiamento para hidrovias no BR. O crédito será usado nas licitações do contrato do Plano Hidroviário Estratégico. Acessado em 10 de janeiro de 2011.
[5] Projeto Norte Competitivo – Macrologística. Acessado em 18 de janeiro de 2011.
[6] Ministério iniciará estudos para o plano hidroviário no próximo ano. Acessado em 17 de janeiro de 2011.
[8] Seminário de Navegação Interior Cooperação Técnica Brasil-Holanda. Acessado em 08 de janeiro de 2011.