A trajetória de vida de Vírginia Leone Bicudo é muito singular. Ela foi educadora sanitária, visitadora psiquiátrica, cientista social, professora universitária, psicanalista. Uma mulher nascida no interior de São Paulo, em 1910, filha de mãe imigrante italiana e pai negro, empregados de uma fazenda de café. Seu Teófilo, o pai de Virgínia Bicudo, estudou o ginásio e ingressou nos Correios e Telégrafos, onde veio a se tornar diretor geral em São Paulo. Ele sempre incentivou os filhos a ascenderem socialmente por meio dos estudos. Com a morte do pai, Virgínia assumiu o sustento da família. Já formada em professora primária, e tendo concluído o Curso de Educadores Sanitários do Instituto de Higiene de São Paulo, foi contratada para dar aulas sobre higiene em educandários da cidade de SP.
Em 1938, Bicudo graduou-se em ciênciais sociais pela Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP) , e interessou-se pela psicanálise. Ao ser criado o Serviço de Higiene Mental Escolar da Secretaria de Educação do Estado de SP, em 1938, tornou-se visitadora psiquiátrica, função que cuidava da prevenção e tratamento de problemas psíquicos da criança, e passou a lecionar na ELSP. Ela defendeu sua dissertação de mestrado na ELSP, sob a orientação do sociólogo Donald Pierson, intitulada Estudos sobre Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo, que versa sobre as relações raciais e o racismo. Nos anos 1950, Bicudo participou do ciclo de estudos sobre as relações raciais conhecido como “projeto Unesco”.
Dos anos 1950 em diante se dedicou à formação acadêmica e à institucionalização da psicanálise em São Paulo e em Brasília por meio da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SP). Virgínia Bicudo será tratada pelos pesquisadores Cristiana Fachinetti, Marcos Chor Maio, Maria Angela Moretzsohn e Tânia Maria Fernandes no próximo Encontro às Quintas.
Cristiana Fachinetti é psicanalista, tem doutorado em teoria psicanalítica pela UFRJ, pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz). Foi editora de um n° especial da revista História Ciências Saúde – Manguinhos Hospício e Psiquiatria na Primeira República: Diagnósticos em perspectiva histórica (2010); escreveu o artigo De barulhos e silêncios: contribuições para a história da psicanálise no Brasil (2003), e o capítulo sobre o psiquiatra e psicanalista Júlio Porto-Carrero, em livro organizado por Lima e Hochman sobre médicos intérpretes do Brasil (no prelo).
Marcos Chor Maio é doutor em Ciência Política pelo Iuperj, pesquisador e professor do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz). Publicou o livro Nem Rothschild, Nem Trotsky: o pensamento anti-semita de Gustavo Barroso (1992), e organizou seis coletâneas, entre elas Raça, Ciência e Sociedade (1996); Ciência, Política e Relações Internacionais (2004) Raça como Questão: História, Ciência e Identidades no Brasil (2010) e Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo (2010).
Maria Angela Gomes Moretzsohn é psicanalista com especialização em Psicologia Clínica, e coordenadora da Divisão de Documentação e Pesquisa da História da Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Foi curadora das exposições:Freud, Conflito e Cultura – Brasil, Psicanálise e Modernismo – MASP (SP) – MAM (RJ); Um Modesto Sábio Vienense Chega a São Paulo – SBPSP; Freud: 150 anos de nascimento – USP; Virgínia Bicudo: Uma História Brasileira – SBPSP.
Tânia Fernandes tem doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2001), pesquisadora e professora do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz). Publicou os livros Vacina Antivariólica: ciência, técnica e o poder dos homens (1808-1920) (2010) e Plantas Medicinais: memória da ciência no Brasil (2004), entre outros.
Coordenação do Encontro às Quintas: Marcos Chor Maio
Data: 28 de abril de 2011Horário: 10 horas
Local: sala 407 do Prédio Expansão | Avenida Brasil, 4036 – Manguinhos, RJ
Fonte: Fiocruz