As várias etnias
A igreja de Nossa Senhora da Assunção de Almofala dos Tremembé é referência na luta pelas terras do antigo aldeamento indígena. A “igreja dos índios” foi soterrada pelas dunas em 1892 e assim ficou por 50 anos, causando dispersão dos Índios Tremembé para as localidades de Córrego do João Pereira e Camondongo (Itarema), Queimadas (Acaraú), e São José e Buriti (Itapipoca).
Em 1996, o índio Kanindé José Maria Pereira dos Santos, o “cacique Sotero”, incentivou a abertura para visitação pública ao “Museu dos Kanindé”, que traz em seu acervo artesanato, com destaque para os trabalhos de madeira, instrumentos de caça e dança até então mantidos sob sigilo.
Os índios Tapeba têm uma recheada agenda cultural, com participação das outras etnias. Em julho acontecem os jogos indígenas estaduais, com todos os povos; em agosto ocorre a feira cultural do povo tapeba, os jogos indígenas tapeba e o ritual de purificação das crianças.
Em setembro ocorre a festa da carnaúba e inicia a fabricação do mocororó. Em 3 de outubro comemora-se o dia do índio tapeba. Dezembro é o mês da colheita da mandioca e das celebrações da “farinhada”. Em mais uma iniciativa de afirmação étnica, os índios Potyguara, de 20 comunidades nos Municípios de Crateús, Monsenhor Tabosa, Novo Oriente e Tamboril retomaram a pesquisa e o ensino do Tupi, a língua ancestral.
PATRIMÔNIO IMATERIAL
Manifestações artísticas e culturais
Aquiraz. O artesanato se soma às outras manifestações artísticas e culturais dos índios. O valor imaterial difundido nas danças, brincadeiras, cânticos e orações revelam a resistência do povo, sua história de vida. Em pelo menos 13 principais etnias espalhadas pelo interior, os índios dialogam arte e cultura com o senso de preservação ambiental. Aos poucos, são reconhecidos pelos não-índios, que passam a perceber os povos indígenas fora dos estereótipos de seres desnudos e pintados. Primitivo é esse pensamento.
É fato que 30 anos atrás era bem mais difícil compreender a existência de índios no Ceará. Sempre existiram donos naturais das terras bem antes da colonização, mas, com a chegada dos europeus, a aculturação foi tanta que até mesmo entender-se índio era um desafio para grupos que hoje se definem de etnias indígenas. Sim, o Ceará é terra de índios. Eles estão espalhados pelo interior, desde a Região Metropolitana de Fortaleza. Entretanto, não espere povos vivendo em ocas, isolados, essa segmentação há muito deu lugar à integração. De acordo com o antropólogo Sérgio Brissac, modo de vestir ou de falar não é definidor da identidade indígena.
“Sou índio” é uma afirmação que transcende os estereótipos. A comunidade Tapeba, em Caucaia, é um típico povoado de interior. O atraso ou a modernidade lá chegou na mesma velocidade com que povoados de não-índios. A diferença está na identificação com a ancestralidade. E nas últimas décadas, reconhecendo seus direitos indígenas, dezenas de grupos reacendem a chama de suas singularidades, suas expressões culturais mais tradicionais, sagradas. Os mais jovens entram na roda da luta desde pequenos – existem cerca de 40 escolas indígenas em 16 Municípios do Estado.
O artesanato é uma forma de chegar a outros lugares e dizerem “sim, nós existimos”. O reconhecimento, a demarcação e a homologação de terras indígenas cearenses é, para os índios, pretexto bom para o convite aos não-índios conferirem o que eles têm de melhor: a cultura. Quem vê, toca e sente, só chega a uma conclusão: “é, eles existem”.
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