Busca por urânio em Minas

Marta Vieira

As pesquisas de urânio começam a ser, efetivamente, retomadas no Brasil pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), sucessora da extinta Nuclebrás, com um programa intenso de busca do minério radioativo em Minas Gerais. O mais novo foco de trabalho dos geólogos contratados pela empresa vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia será o Norte de Minas, informou, ontem, o diretor de Recursos Mineiras da INB, Otto Bittencourt Netto. Ainda em terras mineiras, estão previstas pesquisas na região Nordeste e em alguns pontos da área Central, a exemplo de Santa Bárbara e Rio Acima, na Grande Belo Horizonte, onde há ocorrências do mineral associadas ao ouro.

Em meio à polêmica sobre as consequências do acidente na usina nuclear de Fukujima, provocado por terremoto seguido de tsunami no Japão, a INB retomou seu programa de pesquisas depois de duas décadas sem qualquer investimento nas ocorrências do mineral no país. “Minas Gerais é sempre uma prioridade na busca de qualquer mineral. Vamos retomar a pesquisa também em Goiás, Tocantins e na Bahia, com a meta de ampliar as reservas brasileiras para atendermos a demanda futura de energia que será muito grande”, afirmou o diretor do INB.

Segundo Otto Bittencourt, não há porque temer o programa de investigação do subsolo brasileiro, definido no mesmo projeto do governo federal para construção de mais quatro usinas nucleares. “Em termos de geologia, Brasil e Japão têm situações totalmente diferentes”, diz o diretor da INB, ao observar que o Brasil está sobre placas tectônicas que se afastam entre si, diferentemente do choque que levou aos incidentes no Japão.

A INB vai investir R$ 5 milhões por ano nesta fase inicial de retomada das pesquisas, que consiste na compilação de dados de mapas geológicos já emandamento, inclusive em Minas, e na coleta de amostras em campo. O Norte de Minas surge como uma grande promessa, de acordo com Otto Bittencourt, tendoem vista o fato de a INB já ter identificado geologia favorável à ocorrência deurânio na região. O grupo de rochas encontradas em diversos municípios próximos da divisa do estado com a Bahia apresenta a mesma formação geológica de Caetité, onde a empresa opera a única mina de urânio em atividade na América Latina.

“A gente reza para que as pesquisas indiquem uma nova reserva em Minas”, brinca Otto Bittencourt. O resultado dos levantamentos geológicos no estado, se positivo, poderá levar a reativação do trabalho da INB. A produção brasileira de urânio começou em 1982 na região de Caldas, no Sul mineiro, onde reservas foram exploradas durante 13 anos, abastecendo a usina Angra 1. A reserva foi fechada em 1995 e está em processo de descomissionamento. Caetité passou a fornecer, em 1998, toda a matéria-prima necessária ao funcionamento das usinas de Angra 1 e Angra 2.

RESERVAS – Com reservas medidas, indicadas e inferidas de 309,370 mil toneladas de concentrado de urânio, o Brasil detém a sétima posição no ranking mundial, liderado pela Austrália. Sem vacilar, o diretor da INB diz que o país pode ter o triplo das reservas atuais. Para o presidente do Instituto Brasileiro da Mineração (Ibram), Paulo Camillo Vargas Penna, se houvesse uma política para a pesquisa geológica de urânio, o Brasil, de fato, saltaria à terceira posição entre os produtores mundiais. “O setor já pleiteou uma flexibilização da legislação do segmento, a exemplo do que ocorreu na área de petróleo e gás e que possibilitou as descobertas da camada do pré-sal”, afirmou o presidente do Ibram.

A exploração de minerais nucleares é prerrogativa da União. Até mesmo as pesquisas minerais só podem ser feitas pela INB. Qualquer mineradora que encontrar urânio associado a bens sobre os quais tenha direito de pesquisa, como ouro e ferro, tem de comunicar o fato de imediato às autoridades. Otto Bittencourt disse, ainda, que a estrutura de laboratórios mantida no município mineiro de Caldas está sendo reformada, com o objetivo de transformar a áreaem centro de referência para minerais nucleares num período de um a dois anos.

http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/estado-de-minas/2011/04/06/busca-por-uranio-em-minas

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