Diego Andresi
Se alguma noite o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) preferiu não declarar alguma coisa à imprensa, essa foi sem dúvidas a noite da sua entrevista com o programa CQC da Bandeirantes. Após um mês conturbado recebendo denúncias e acusações por declarações de homofobia e racismo, o deputado vê crescer os pedidos de abaixo-assinados organizados por uma população furiosa e indiguinada, todos com um único objetivo em comum: exigir a cassação do seu mandato.
Toda essa polêmica me fez lembrar um livro chamado A Cabeça do Brasileiro, escrito por Alberto Carlos Almeida, que está em sua terceira edição, lançado em 2007. Este que por sinal foi muito elogiado e comentado pela revista Veja na ocasião.
Com uma proposta de descobrir o que o povo brasileiro realmente pensa sobre alguns assuntos polêmicos, Almeida organizou uma pesquisa intitulada de Pesquisa Social Brasileira (PESB) onde procurou reunir dados quantitativos de maneira que o resultado fosse o mais correto possível. Para tal, foram entrevistadas 2.363 pessoas, entre 18 de julho e 5 de outubro de 2002, em 102 municípios e desses, 27 foram considerados auto-representativos (todas as capitais) e 75 não auto-representativos. Do total de entrevistados, 9% eram analfabetos e apenas 12% com ensino superior. Foram ainda excluídas da pesquisa as cidades com menos de 20.000 habitantes.
Por estarem em relevância no momento, escolhi apenas dois desses assuntos para discutir nesse artigo, são eles o Liberalismo Sexual e o Racismo. Começarei abordando um a um, e no final do artigo vou realizar um breve parecer final sobre a conclusão do autor.
Liberalismo Sexual
Em frente às câmeras sempre é tudo muito bonito, ninguém é contra nada, todos são liberais quando o assunto é sexo e o país segue seu caminho rumo ao modernismo. Mas será mesmo que o brasileiro é tão liberalista assim a ponto de sentir na própria pele as injustiças que o Deputado Bolsonaro falou? Vamos ver o que a pesquisa identificou:
Tabela dos Resultados Sobre o Liberalismo Sexual no Brasil
(*) Desconsiderados os Analfabetos e Estudantes da Quarta Série até a Oitava Série.
(**) Desconsiderados os Evangélicos Pentecostal e Evangélicos Não-Pentecostal.
Com um resultado Médio Geral de 89%, não restam dúvidas. No que tange o assunto homossexualismo, o Brasil pode sim ser considerado um país que não aprova esse tipo de conduta, a porcentagem de pessoas contra é esmagadora. Essa é opinião é unânime tanto para homens quanto para mulheres, de qualquer faixa etária, de qualquer grau de escolaridade, não importando se são católicos ou se não seguem nenhuma religião tampouco se moram em uma capital ou em uma cidade do interior.
Se a pesquisa aponta para um resultado dessa natureza, como explicar então a revolta da população?
Para essa resposta, o autor adverte que, mesmo sendo a minoria, os que apóiam o liberalismo sexual são os formadores de opinião, ou seja, são as pessoas da mídia, jornalistas que fazem matéria de revistas, apresentadores de televisão ou mesmo uma parcela que detém o diploma ou ainda está cursando o Ensino Superior. A maioria, que está do lado do perfil conservador, está longe de ser composta por formadores de opinião. Por isso, segundo Almeida, qualquer um pode ser levado a crer que a mentalidade média do país é semelhante ao que se vê na mídia, como o que de fato aconteceu.
Racismo
Como medir o índice de racismo da população? Esse foi o maior desafio enfrentado pelo autor, ele afirma que “algumas tentativas anteriores haviam sido feitas para obter um resultado quantitativo, porém esbarravam em perguntas formuladas de maneira pouco adequada, que induziam o entrevistado a camuflar seu preconceito”, ou seja, não adianta chegar a uma pessoa e perguntar “o senhor se considera racista?”, ela de certa forma seria induzida a responder que não e a pesquisa não seria eficiente, seu resultado seria deturpado.
Para resolver esse problema, Almeida elaborou uma pesquisa onde foram apresentadas 7 fotografias de pessoas aos entrevistados, em uma escala do mais branco para o mais negro (branco, pardo e negro), onde a primeira foto mostrava uma pessoa totalmente branca e a ultima uma totalmente negra.
Esse “quadro de fotos” foi então mostrado aos entrevistados e um total de 17 perguntas do tipo “qual dessas pessoas parece ser um advogado?”, “qual delas parece ser um criminoso?”, “qual parece ter mais estudo?” foram feitas.
E surpreendente (será?) o que a pesquisa identificou foi o seguinte:
O autor ainda com base na pesquisa, concluiu que:
Vale muito à pena ressaltar que, contrariando o que outros autores tinham identificado até então, o contexto não muda a forma como os brasileiros vêem a cor das pessoas, ou seja, não é verdade que as profissões de status elevado “embranquecem” as pessoas. O autor afirma de forma veemente que “o preconceito baseado na cor existe, é muito difundido e está enraizado entre nós”. Tudo isso ajudou ele a concluir que o Brasil é um país de vários adjetivos que significam arcaísmo e atraso. Almeida não deixa dúvidas de que a principal maneira do país seguir rumo ao que ele chama de modernismo é aumentando o nível de nossa educação, em suas palavras “a educação tem um forte impacto na sociedade que, por sua vez, influência enormemente a política”.
Como a parcela de pessoas com ensino superior tende a aumentar, a população começa a ter uma atitude mais modernista, passando a não tolerar mais atitudes como essas, sendo assim, deputados como Bolsonaro e Tiririca pouco a pouco perderão o seu espaço na política. É um processo lento, porém irreversível.
Após ler todo o livro, ouso em concluir que o Sr. Deputado Bolsanoro, ao que tudo indica, está representando a voz de uma maioria, maioria essa que sequer assiste televisão ou está por dentro dos assuntos do Congresso Nacional, ou o que é mais provável, preferem ocultar a sua opinião.
Felizmente o ritmo da nossa educação, assim como o pensamento da população, lentamente está crescendo e se evoluindo. Atitudes como essa tendem a ser cada vez mais raras em nosso país. Sobre a educação eu particularmente concordo muito com o autor, ela é sem dúvidas o melhor caminho para que o Brasil enfim se torne um país para todos.
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