A fome e as finanças: um retrato da desigualdade

Atualmente, a população mundial conta com mais de 6,8 bilhões de pessoas. De acordo com dados da ONU e seu órgão para Agricultura e Alimentação (FAO), 925 milhões desse total passam fome. Trata-se de um contingente equivalente a 5 vezes o total da população brasileira! Além disso, vale registrar que as crianças são as que mais sofrem com tal quadro. Quase um terço das crianças nascidas no chamado Terceiro Mundo, ou seja, 180 milhões, apresentam problemas de desenvolvimento físico e intelectual em razão de problemas de subnutrição nos primeiros 5 anos de vida.

Paulo Kliass – Especial para Carta Maior

Uma das armadilhas mais perigosas quando se analisam questões macro e de grande amplitude, como é o caso da fome no mundo, reside na tendência a considerar tais fenômenos como “fatalidades”, processos profundos e de longuíssimo prazo, praticamente sem solução à vista. Aquela estória de que “esse quadro está aí desde que o mundo é mundo” e por aí vai. Como os avanços não ocorrem no curto prazo e também não existem instrumentos efetivos de decisão no plano internacional, a coisa vai sendo empurrada com a barriga e a situação dramática continua a afetar a vida de boa parte da população do mundo.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos determina em seu Artigo 25, entre outros princípios, que toda pessoa “tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis” (GN). No entanto, a realidade está bem distante desses direitos básicos, em especial no que se refere à questão da fome. (mais…)

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Maria da Conceição Tavares: ”Obama foi anulado pelo conservadorismo de bordel dos EUA”

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, a economista Maria da Conceição Tavares fala sobre a visita de Obama ao Brasil, a situação dos Estados Unidos e da economia mundial. Para ela, a convalescença internacional será longa e dolorosa. A razão principal é o congelamento do impasse econômico norte-americano, cujo pós-crise continua tutelado pelos interesses prevalecentes da alta finança em intercurso funcional com o moralismo republicano. ‘É um conservadorismo de bordel’, diz. E acrescenta: “a sociedade norte-americana encontra-se congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada”.

Quando estourou a crise de 2007/2008, ela desabafou ao Presidente Lula no seu linguajar espontâneo e desabrido: “Que merda, nasci numa crise, vou morrer em outra”. Perto de completar 81 anos – veio ao mundo numa aldeia portuguesa em 24 de abril de 1930 – Maria da Conceição Tavares, felizmente, errou. Continua bem viva, com a língua tão afiada quanto o seu raciocínio, ambos notáveis e notados dentro e fora da academia e esquerda brasileira. A crise perdura, mas o Brasil, ressalta com um sorriso maroto, ao contrário dos desastres anteriores nos anos 90, ‘saiu-se bem desta vez, graças às iniciativas do governo Lula’. (mais…)

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O que acontece sem a energia nuclear?

O mundo aposta nos possíveis substitutos do átomo. As fontes renováveis competem com as centrais em termos de custo. A eletricidade do futuro será mais verde, mas não mais barata. A reportagem é de Maurizio Ricci, publicada no jornal La Repubblica, 16-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

E agora? Se o pós-Fukushima, assim como o pós-Chernobyl, inaugurasse uma segunda era pós-nuclear, o mundo estaria destinado a uma paralisia, além disso escura, fria e intoxicada por petróleo e carvão?

Na realidade, embora muitos defendam que o átomo é uma escolha conveniente, ninguém jamais disse que se trata de um caminho obrigatório. A cota da energia nuclear na oferta de energia mundial está relativamente contida. Hoje está em 16%. Na Itália, se a Enel [maior operadora de eletricidade do país] realizasse as quatro centrais que tem programada, passaríamos de zero para 12-13%. Mas, no mundo, de acordo com a maior parte das previsões, antes de Fukushima, a cota do átomo devia permanecer mais ou menos em 16%, a não ser que houvesse uma drástica reviravolta na luta contra o efeito estufa. (mais…)

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As lições atômicas que o Japão não aprendeu

Em 16 de julho de 2007, às 10h13 um terremoto de magnitude 6.8 na escala Richter danificou a central nuclear japonesa de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo, com sete reatores. No primeiro dia da catástrofe, a Empresa de Eletricidade de Tóquio (Tepco), proprietária também da central de Fukushima, minimizou os danos. No dia seguinte, contudo, admitiu que os projetistas da planta não previram que poderia enfrentar um terremoto dessa magnitude. E assumiu que centenas de litros de água com 600.000 becquerels (unidade de medida da radioatividade) vazaram para o mar. Um dia depois, a empresa reconheceu que a cifra subia para 1.300 litros com 90.000 becquerels. É certo que aquele vazamento foi muito pequeno comparado com o de Fukushima. Mas a informação que a Tepco deu deixou muito a desejar. Os documentos do Departamento de Estado revelados por Wikileaks informavam que ainda que o material vazado não represente uma ameaça para o meio ambiente, o próprio Governo japonês estava muito chateado com a forma como a Tepco havia administrado o incidente.

A reportagem é de Francisco Peregil e está publicada no jornal El País, 16-03-2011. A tradução é do Cepat.

Shinzo Abe, o então primeiro-ministro japonês, declarou: “Os relatórios da Tepco chegaram tarde. Recordei a eles duramente que os relatórios devem ser feito de forma rigorosa e a tempo. As plantas nucleares não podem operar sem a confiança do cidadão. A rapidez na hora de informar e a transparência na informação são necessárias para obter essa confiança”.

A central de Kashiwazaki-Kariwa foi fechada temporariamente e o Organismo Internacional da Energia Atômica (OIEA) se comprometeu a ajudar na investigação do acidente. O diretor do organismo nuclear da ONUMohamed El Baradei, pediu a Tóquio que informasse com “total transparência” e destacou: “É importante aprender a lição sobre um terremoto”. (mais…)

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O dever do medo

“Eventos semelhantes ao ocorrido no Japão não são o fim do mundo, mesmo talvez fazendo alusão a isso. São, ao contrário, o fim de um mundo: de certezas, de axiomas obstinadamente cultivados.” A opinião é da jornalista e filósofa italiana Barbara Spinelli, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 16-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisado pela IHU On-Line. Eis o texto:

Há momentos assim na história dos homens: em que se reage mais com a emoção do que com a racionalidade, porque a emoção desperta, incita a estar alerta. Ainda em Ésquilo, a paixão e o sofrer são fontes de aprendizado. É o caso do Japão, desde que, na sexta-feira, o tsunami se acrescentou ao terremoto e não só varreu casas, vidas, vilarejos, mas também causou a explosão de quatro reatores nucleares em Fukushima.

Ao horror que despontou do subsolo e do mar, acrescenta-se agora uma chuva radioativa que leva quem habita perto das centrais a fugir ou a entrincheirar-se em casa. Há momentos em que se abre uma fissura no mundo, e não só no físico, mas também no mental, e por isso é preciso recorrer aos mais diversos expedientes: à inteligência racional, à discussão pública, mas também ao medo, essa paixão julgada muito triste para servir de remédio. (mais…)

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Llamado de solidaridad de La Vía Campesina con el pueblo de Japón

Via Campesina

La Via Campesina transmite sus sentidas condolencias al pueblo de Japón, a quienes han perdido a sus familias, amistades, hogares, modos de vida y a los que viven con temor a día de hoy el riesgo de una fuga radiactiva de la central nuclear azotada por el terremoto. Expresamos nuestro apoyo y solidaridad y hacemos un llamado a las organizaciones y movimientos sociales aliados, la sociedad civil y a todos los ciudadanos y ciudadanas comprometidos para que se sumen a nuestra ayuda al pueblo de Japón tan necesitado en estos momentos.

La tarea más inmediata y acuciante consiste en acompañar al pueblo de Japón en este momento crítico. Por eso les pedimos que se unan a nosotros; cualquier donación por insignificante que parezca puede ser muy valiosa e irá destinada a las labores de rescate y socorro. (mais…)

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Crise no Japão repercute em planos nucleares na América Latina

Central Nuclear de Embalse, em Córdoba, Argentina. Buenos Aires afirma que usinas são seguras
Central Nuclear de Embalse, em Córdoba, Argentina. Buenos Aires afirma que usinas são seguras

Crise no Japão faz Caracas suspender programa nuclear. América Latina tem seis usinas nucleares em três países. Enquanto Venezuela e Brasil se mostram preocupados, Chile e Argentina continuam projetos.

Após os graves problemas surgidos em Fukushima 1, no Japão, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou na terça-feira (15/3) a suspensão do programa de construção de uma central nuclear no país.

“Ordenei ao ministro [da Energia Rafael] Ramirez congelar os planos desenvolvidos, os estudos preliminares do programa nuclear pacífico venezuelano”, afirmou Chávez, durante uma cerimônia transmitida pela televisão. “Não tenho dúvida de que isso [a potencial catástrofe nuclear no Japão] irá alterar muito fortemente os planos de desenvolvimento de energia nuclear no mundo”, acrescentou.

A Venezuela assinou em 2010 um acordo com a Rússia para a construção de uma central nuclear. Esse projeto provocou a inquietação dos Estados Unidos, que classificaram a medida de “perigosa”, devido à estreita relação da Venezuela com o Irã e aos depósitos de urânio existentes no país sul-americano. (mais…)

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Criminalização das Lideranças Guarani Kaiowa no MS

Israel Sassá

“Quando nós indígenas nos organizamos e retomamos nossas terras, eles [o Estado] nos chamam de formadores de guadrilhas, ladrões, invasores, bandos e processam a gente e nos prende, nos torturam, nos massacram e nos matam.” (Liderança Guarani Kaiowá durante encontro Aty Guassu, realizado no ultimo fim de semana, dias 11, 12 e 13 de março de 2011, na aldeia Takuara, Juti – MS.

As lideranças reunidas na selebração do Aty Guassu, manifestaram preocupação com o precesso de criminalização que vem sofrendo desde as primeiras retomadas.

No Mato Grosso do Sul, indígenas acampam nas margens das estradas e rodovias a espera de que o governo demarque e homologue suas terras. Um desses grupos, a comunidade Laranjeira Nhanderu, acampado ha quase dois anos na BR 163, municipio de Rio Brilhante, foi despejado do local a pedido da DNT (consorcio rodoviario). Antes de acamparem na margem da rodovia, foram despejados pela justiça federal de sua Tekoha. “Para onde eles vão, aquelas familias, que já foram despejados de suas tekoha e encontraram na margem da rodovia uma opção para se organizarem e morarem?”, indaga uma das lideranças, indignado pela situação que estão passando. (mais…)

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MA – Comissão de Meio Ambiente da AL recebe denúncia contra a Alcoa

Empresa estaria utilizando uma área de 7 mil hectares doada pelo governo para armazenar “resíduos altamente tóxicos” em “lagos artificiais”.

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável discutiu, ontem (16), uma denúncia feita pela Associação Comunitária dos Pequenos Produtores Rurais do Assentamento Agrícola de Aracáua (ACPPRAAA) contra a Alcoa. Segundo o documento, a empresa estaria utilizando uma área de 7 mil hectares doada pelo governo para armazenar “resíduos altamente tóxicos” em “lagos artificiais”.

Estes “lagos”, de acordo com ofício assinado pelo secretário de Assuntos Estratégicos da ACPPRAA, Pedro Gomes, além de supostamente poluir o lençol freático da ilha, teriam sido construídos em uma área onde outrora predominava uma “promissora lavoura de subsistência”. Ele chega a pedir a criação de uma CPI para tratar do assunto. Os membros da comissão, presidida pelo deputado Léo Cunha (PSC), decidiram pedir informações à Alcoa para definir providências. (mais…)

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