Egon Heck
O dia 20 de outubro já se despedia, quando a juíza Lisa Taubemblatt pronunciou mais uma sentença contra os direitos indígenas. Em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai – terra onde foram absolvidos os assassinos de Marçal de Souza Tupã’y – tem se notabilizado as constantes decisões contrárias aos povos Kaiowá Guarani da região. Depois de uma audiência em que as quatro lideranças da comunidade de Ypo’i tiveram que assistir calados as acusações e debates sobre sua realidade e direitos, a decisão veio como uma flechada no coração: “Vocês têm dez dias para deixar a fazenda São Luiz”. Trata-se de deixar em o local onde estão enterrados seus pais, avós e inúmeros antepassados que ali viveram até vinte e sete anos atrás. É uma sentença para abandonarem o espaço donde foram violentamente expulsos há menos de um ano atrás. É o local onde foram assassinados os professores Genivaldo e Rolindo, sendo que deste último sequer o corpo ainda foi localizado e onde não tiveram permissão de sepultar Genivaldo, conforme entendia ser seu direito e desejo. É desse espaço tradicional e sagrado que a juíza determinou que saiam. Será que existe injustiça maior?
Uma das lideranças presentes ao julgamento/audiência ligou dizendo que não consegue mais dormir, pois está temendo pela sorte de sua comunidade. Está extremamente angustiada pensando o que poderá vir a acontecer. A traumática experiência de violência e morte lhe atormenta. Por isso suplica a todas as pessoas de bom coração que não permitam que eles sofram mais uma vez graves violências.
Campanha pelos direitos e pela vida
Diante da grave realidade de isolamento, fome, desassistência, ameaças e o cerco a que a comunidade do Ypo’i está submetida, a Anistia Internacional fez uma campanha solicitando providências imediatas. Nas centenas de cartas enviadas aos ministros da Justiça e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, vem expresso “peço aos Senhores e às autoridades brasileiras que garantam a segurança dos membros da comunidade e assegurem que eles tenham acesso à comida, água, cuidados de saúde e que possam se deslocar livremente…solicito que a Polícia Federal conclua a investigação sobre a morte de Genivaldo Vera e o sobre o paradeiro de Rolindo Vera e que os responsáveis sejam levados à Justiça”. As centenas de cartas também são de dezenas de países, dentre os quais Bélgica, Holanda, Israel, Japão, Croácia, França, Espanha, Itália, Alemanha e EUA.
Neste momento essa campanha se estende ao clamor urgente para que não se consuma mais uma violência e expulsão da comunidade do Ypo’i de seu sagrado chão, seu tekoha tradicional.
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