Eleições exigem discernimento, por Frei Gilvander Moreira

Tentarei me manifestar da forma mais isenta possível, com um único objetivo: mostrar que esse ambiente de terrorismo religioso só faz mal ao país. Deveríamos aproveitar a eleição presidencial, principalmente no segundo turno, quando só há dois candidatos, para discutir propostas e realizações para nosso país.

Mas não, a eleição se resume a quem é a favor do aborto, quem é contra união civil de homossexuais, uma ‘guerra santa’ que não só atinge a imagem do Brasil no exterior, como menospreza a inteligência dos eleitores.

Nós, se nos consideramos inteligentes, não podemos aceitar essa pauta. Não nos deixemos contaminar pelo baixo nível da vitória a qualquer custo. Quem quer que ganhe, explorando este tipo de discurso, certamente pagará a conta no futuro pelo clima bélico criado.

Sobre o assunto em si, a única coisa que tenho a dizer é: Dilma e Serra TÊM EXATAMENTE AS MESMAS POSIÇÕES QUANTO AO ABORTO. Ambos se declaram pessoalmente contra, mas que é um caso a ser debatido sob a ótica da saúde pública, e não sob dogmatismo religioso apenas. Como disse Dilma, nenhuma mulher gostaria de fazer um aborto, é uma violência contra o seu corpo, um trauma psicológico muitas vezes irrecuperável. Ninguém discute a ‘liberação do aborto’, uma pessoa chegar a um posto de saúde e dizer: ‘Ei, doutor, tira aí meu filho’.

O que se discute é que, em casos de risco de vida para a mulher, em casos de estupro, e tantos outros que não me vêm à cabeça porque é um tema que não domino, o caso deverá ser tratado com um problema de saúde. José Serra, quando ministro da saúde, determinou que os postos de saúde tivessem toda a estrutura para realizar esse ‘esvaziamento da cavidade uterina’

Espalhar mensagens dizendo que Dilma é isso, que Serra é aquilo, não contribui para o debate. Vocês estão sendo usados como massa de manobra de interesses que nada têm a ver com os da população. E cabe às pessoas sérias, principalmente as mais envolvidas com religião, ajudar a desmentir esses boatos e limpar o ambiente.

Vejam alguns links interessantes para que fiquem cientes das verdadeiras posições dos candidatos e dos líderes religiosos:

1 – CNBB: seu nome ‘está sendo usado para enganar fiéis:
http://nogueirajr.blogspot.com/2010/10/nome-da-cnbb-esta-sendo-usado-para.html

2 – TV Canção Nova emite nota se desculpando por excessos contra Dilma: http://tv.cancaonova.com/mostramateria.php?id=6431

3 – Folha de São Paulo: Dilma se reúne com lideranças religiosas, se declara contra o aborto e a favor da vida e pede para desmentir boatos: http://www1.folha.uol.com.br/poder/806590-dilma-faz-reuniao-com-evangelicos-e-catolicos-para-desmentir-boatos.shtml

4 – Vídeo: Lula alerta para boatos de campanha: http://www.youtube.com/watch?v=kmI_2s-9154&feature=player_embedded

5 – Vídeo: Professor Gabriel Chalita, 2o deputado mais votado de São Paulo, fala sobre onda de boatos sobre PT e Dilma: http://www.youtube.com/watch?v=xS2pv2z8BP4&feature=player_embedded

6 – Cristãos com Dilma: (não estou dizendo que não haja cristãos com Serra, claro que os há, só mostro porque há padres e pastores de todas as religiões, obviamente favoráveis à vida e contra o aborto, se manifestando em solidariedade e/ou apoio a Dilma): http://www.cristaoscomdilma.blogspot.com/

7 – José Serra, Ministro da Saúde, cria procedimentos para ‘interrupção da gravidez’ e ‘esvaziamento da cavidade uterina’ – http://www.conversaafiada.com.br/politica/2010/10/05/e-para-usar-o-aborto-na-campanha-ministro-serra-autorizou-muito-aborto

Claro que cada um/a com suas convicções religiosas pode se posicionar de uma maneira ou de outra, e lutar por essa sua posição. Mas isso se faz elegendo parlamentares, desde o vereador até o senador, passando por deputados, comprometidos com esta causa. Quem faz e aprova leis são os vereador, deputados e senadores, não o presidente da república. É ignorância e/ou má-fé quem joga essa responsabilidade nas costas do presidente.

Vamos falar de coisas mais inteligentes, é bom para a nossa saúde mental e para o nosso país.

Vote segundo sua consciência, em quem tem as melhores propostas para crescimento econômico, inclusão social, educação, meio ambiente e os demais assuntos que lhe interessarem (como o trio que todo político sempre inclui ‘segurança-saúde-educação’). Mas não vote baseado em e-mails anônimos, que são um insulto à nossa inteligência.

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