Por RioOnWatch
Por volta das 5 horas da manhã, ontem, 23 de outubro, a Guarda Municipal e representantes da Prefeitura chegaram na Vila Autódromo, comunidade que faz fronteira com o Parque Olímpico na Zona Oeste do Rio, para demolir mais casas no bairro.
“Estava cheio de policiais”, contou João um antigo morador. A página da comunidade no Facebook relatava que assim que chegou, a Guarda Municipal bloqueou o acesso a uma parte da Vila Autódromo, impedindo moradores de se movimentarem livremente ao redor do bairro. A área foi fechada incluindo a Casa da Nanã, a antiga casa da mãe de santo de Candomblé, Heloisa Helena Costa Berto, que luta para proteger o local sagrado da demolição.
A mesma página do Facebook anunciou as demolições de duas casas, enquanto outros relatórios diziam que até cinco casas foram alvos. João disse que “as casas que foram destruídas estavam na área principal da Vila Autódromo”, o que significa que os acontecimentos de hoje terão um grande impacto no sentimento de permanência no lugar pelos moradores restantes. Os moradores teriam sido impedidos de monitorarem as atividades da Guarda Municipal de perto, mas a notícia de que pertences dos moradores ainda estavam nas casas que estavam sendo destruídas se propagou.
“A Prefeitura continua a espalhar o terror na comunidade”, os moradores escreveram no Facebook. “Estamos agora cercados e ninguém sabe ao certo o que está acontecendo!” A última vez que houve uma presença da Guarda Municipal tão grande na Vila Autódromo, em 3 de junho, a tentativa da Prefeitura na demolição resultou em um confronto que deixou pelo menos seis feridos.
Embora os moradores da Vila Autódromo tenham títulos legais de suas casas, em março o Prefeito Eduardo Paes fez uma declaração de que 58 casas seriam desapropriadas, com o número aumentando desde então. Hoje, como em ocasiões anteriores de “remoções relâmpago” este ano, a Prefeitura não informou aos moradores sobre as demolições com antecedência. Por volta de meio-dia, João disse que alguns moradores que tiveram suas casas demolidas na parte da manhã, ainda não tinham conhecimento das demolições.
A moradora Mariza do Amor Divino estava numa consulta médica quando sua casa foi demolida. Ela tinha deixado todos os seus pertences, incluindo medicamentos essenciais para a diabetes. Quando ela retornou, descobriu sua casa no chão. Só alguns de seus pertences haviam sido preservados e levados para a sub-prefeitura. Por volta das 14h, Mariza não tinha onde passar a noite e moradores iniciaram pedidos de ajuda em seu nome.
Apenas dois dias atrás, João comentou que a comunidade da Vila Autódromo estava muito unida, dizendo que “você nunca vai encontrar um lugar como este”. Ele estava certo que 41 famílias estavam comprometidas a permanecer, pouco menos das 100 que ainda estão lá das mais de 600 famílias que viviam lá no passado.
Hoje ele se esforçou para encontrar palavras positivas. A Prefeitura continua a dizer aos moradores uma coisa, mas fazem outra. O Prefeito Eduardo Paes prometeu em 2013 que aqueles que quisessem permanecer ficariam na área, tranquilizando os moradores até recentemente, em agosto, que parte da comunidade permaneceria. No entanto, a contínua falta de transparência dos planos da Prefeitura para o bairro em relação às vias de acesso do Parque Olímpico faz com que os restantes dos moradores permaneçam em um estado permanente de tensão e incerteza.
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Este artigo foi escrito por Cerianne Robertson, Clare Huggins, e publicado em 24/10/2015. Tradução por Patricia Gomes.
Destaque: a foto, publicada na matéria e sem informações de autoria, dá uma ideia razoável dos interesses na expulsão da Vila Autódromo…