Eliane Souza
Os indígenas, especialmente da nação Guarani estão sendo obrigados a carga horária de trabalho com 12h seguidas no corte da cana, com o oferecimento de bebida alcoólica e energéticos para não chegar ao esgotamento braçal, o que resulta no dobro da capacidade antes colhida. A denúncia parte do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Ong internacional Survivol e a Comissão Permanentte de Assuntos Indígenas (Copai). A situação estaria ocorrendo em usinas de Mato Grosso do Sul desde que o setor voltou a ter força econômica no Estado.
A presidente da Copai, que é ligada a OAB-MS, Samia Rojes Jordy Barbieri denuncia que antes da onda da cana chegar com força ao Estado cada índio colhia entre 6 e 10 toneladas de cana por dia. Agora, com os artifícios de rebites e carga exaustiva, a produtvidade pode chegar a 20 toneladas/dia.
O CIMI denuncia que os gatos – que são homens designados para recrutar trabalhadores braçais – vão até as aldeias e contratam os indígenas para o corte da cana. É quase zero a chance de um índio ser contratado para outros setores como o de operador de maquinários. Outra revelação é que muitos adolescentes utilizam documentos de parentes maiores de idade para conseguir a vaga.
As condições de trabalhos a que são submetidos os indígenas do Estado nas usinas de açúcar e álcool motivaram um documentário. O jornalista Cristiano Navarro de São Paulo, que presta serviços para o CIMI, fez um documentário que mostra a realidade dos indígenas nas fazendas de cana. O vídeo poderá ser assistido nesta quarta-feira durante a II semana do Índio na OAB, a partir das 18h30.
Sob o título “A sombra de um delírio verde”, o documentário mostra que em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte, na maioria das vezes encomendada por latifundiários.
“Falar dos direios humanos já é difícil. Direito humanos indígenas é mais difícil ainda”, diz a advogada Samia Rojes. Ela relata que um dos grandes problemas que afastam homens brancos dos indígenas – inclusive o desconhecimento dos magistrados – é porque não é ensinado nas escolas e universidades sobre o direito dos povos indígenas. “As pessoas não entendem antropologicamente e ele são julgados. O direito da igualdade do índio é o direito a diferença deles”, frisa.
A Ong Survivol faz duros comentários sobre a relação índio/canaviais no Estado. Em determinado trecho sobre o assunto descreve “…plantações de cana de açúcar foram estabelecidas na década de 1980, e depende fortemente do trabalho indígena. Frequentemente, os trabalhadores trabalham por salários miseráveis em condições terríveis. Em 2007, a polícia invadiu uma destilaria de álcool de cana de açúcar e descobriu 800 índios trabalhando e vivendo em condições subumanas… As doenças sexualmente transmissíveis e alcoolismo foram introduzidas pelos trabalhadores retornando e tensões internas ea violência aumentaram”.
Evento
Com o tema “Os guarani de Mato Grosso do Sul e seus direitos”, o evento traz palestras e apresentações culturais até a próxima quinta-feira (28), no auditório da OAB/MS. Nesta terça, as atividades começam às 18h30 com a presença do vereador de Caarapó, Otoniel Ricardo, Edna Guarani (filha do Marçal de Souza) e Tonico Benites. O assunto será “A situação atual dos guarani de MS – A solução dos conflitos e a busca por uma cultura de Paz”.
Survivol |
A II Semana do Índio na OAB vai até o dia 28, sempre com início as 18h30. O último dia será mais dedicado ao teatro, música, exposições.
http://www.midiamax.com/noticias/750929-entidades+denunciam+trabalho+subumano+usinas+estado.html