No Justificando
A partir da próxima terça feira (03), na Universidade Presbiteriana Mackenzie, ocorrerá uma série de eventos em homenagem a Luiz Gama para discutir o seu legado, a escravidão, os direitos sociais, entre outros temas. Na ocasião, ainda, a Ordem dos Advogados do Brasil oficialmente inscreverá em seus quadros o jurista, uma das grandes figuras do abolicionismo.
Nascido em 1830, Gama chegou a ser escravizado. Chegando a São Paulo, conseguiu a liberdade, tornando-se depois importante jornalista, poeta e militante político de posições republicanas e abolicionistas. Tentou formar-se advogado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas apesar de formalmente livre, deparou-se com o racismo e só pode frequentar as aulas como ouvinte. Ainda assim, Luiz Gama tornou-se advogado provisionado, com autorização para atuar nos tribunais em defesa de escravos que lutavam por liberdade.
Na defesa de escravos, Gama adquiriu tamanha importância que recebeu o apelido de “Apóstolo Negro da Abolição”. Em um júri, chegou a chocar os presentes quando afirmou que “o escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”.
Na próxima semana, 133 anos após sua morte, o evento em sua homenagem terá além da inscrição oficial na OAB, diversas palestras e discussões sobre racismo, representatividade negra no Direito. Entre os palestrantes, destaca-se o Professor do Mackenzie Silvio de Almeida, que falará sobre o legado de Luiz Gama.
“(…) não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor; outros… inúmeros. E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando as mas angélicas ações, por entre uma saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade, alguns um conselho fortificante. E Luís Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia ilumi nando à custa da própria vida as trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sobra de lucro… E, por essa filosofia, empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bom… Pobre, muito pobre, deixava para os outros tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado.” (Raul Pompeia)