O governo do Estado de São Paulo vai fechar 94 escolas a partir do ano que vem como parte de um programa de reorganização do ensino que vem recebendo duras críticas de educadores, gestores, pedagogos, pais e mães e alunos.
Não vou entrar na discussão técnica porque uma enxurrada de argumentos contrários – que inclui o rompimento de vínculos entre unidades educacionais e a comunidade sem uma discussão aprofundada com os envolvidos, por exemplo – já lavou a rede, nos últimos dias.
Mas o que dizer de pessoas que enchem a boca o tempo inteiro para dizer que a educação é a saída para o país e, em momentos como este, se calam e não reforçam o questionamento ao poder público? Afinal, um terço das escolas que irão para o vinagre tem nota maior que a média estadual e muitas não estão ociosas, como indica o governo.
Ou, pior: o que dizer das pessoas que reclamam dos jovens que têm ido as ruas para protestar contra o fechamento das escolas? Porque essa molecada atrapalha o trânsito (num lugar em que carros são mais importantes que livros e pessoas) e não sabe o seu lugar na sociedade (pois deveriam voltar para o seu canto na periferia ou estar trabalhando).
Uma das principais funções da educação deveria ser “produzir” seres pensantes e contestadoras que podem colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou enquadrar.
Em algumas sociedades, pessoas assim, que protestam, discutem, debatem, discordam, mudam são úteis para fazer um país crescer. Por aqui, são vistas com desconfiança, chamadas de mal-educadas e vagabundas e acusadas de serem resultado de uma educação que não deu certo.
O silêncio diante de uma mudança desse tamanho e a raiva contra quem protesta me leva a crer que algumas “pessoas de bem” que carregavam cartazes pedindo “Mais Educação” durante manifestações queriam dizer, na verdade: “Estou aqui fugindo de um vazio existencial enorme devido a uma alienação completa da realidade e segurar essa cartolina foi o único jeito para eu me sentir pertencente a um grupo social”.