Após debate de acusação e defesa, conselho vai dar veredicto para 2 réus. Três fiscais do Trabalho e um motorista foram mortos em 2004, em Unaí.
Pedro Ângelo, do G1 MG
O procurador da República Gustavo Torres, que trabalha na acusação do Tribunal do Júri da Justiça Federal, em Belo Horizonte, disse, nesta sexta-feira (30), que a chacina de Unaí foi “crime de pistolagem”. Este é o último dia do julgamento do fazendeiro Norberto Mânica e do empresário José Alberto de Castro, acusados de serem mandante e intermediário na contratação dos pistoleiros que mataram três auditores do Ministério do Trabalho e um motorista em 2004.
Os servidores mortos investigavam trabalho escravo na região onde Mânica tem uma fazenda, no Noroeste de Minas Gerais. O alvo da execução seria, segundo testemunhas, Nelson José da Silva, um dos fiscais mortos. Ele era conhecido por ser rigoroso e ter conduta ilibada. Norberto e José Alberto respondem pelo crime de homicídio doloso qualificado.
“Isso é decorrência de um crime de pistolagem. Algo que a gente não pode aceitar no Brasil”, afirmou o procurador durante o júri, nesta sexta-feira (30). Torres disse que a legislação brasileira é branda ao se referir ao tempo de duração do processo. “Nós não vamos poder aqui fazer justiça plena. Nós não vamos poder dar ao fato o castigo que a barbaridade merece por causa da lei brasileira. […] Depois de inúmeros recursos, todas as técnicas processuais para atrasar esse julgamento por 11 anos, nós estamos aqui nesse dia histórico”, disse.
A previsão é que o debate entre defesa e acusação dure nove horas nesta sexta-feira. O veredicto deve sair ainda hoje. Quatro mulheres e três homens vão compor o Conselho de Sentença que dará o veredicto – culpado ou inocente – no júri popular da chacina de Unaí.
O julgamento começou nesta terça-feira (27). Testemunhas de acusação e defesa foram ouvidas nos dois primeiros dias. Entre elas, o delator da chacina, Hugo Pimenta, que também é reu no processo e vai ser julgado em novembro. Ele reafirmou que Norberto Mânica foi o mandante do crime e contou em detalhes a versão dele para a chacina, desde as conversas e a decisão de contratar pistoleiros para matar o fiscal.
Nesta quinta-feira (29), os réus Norberto Mânica e José Alberto de Castro foram interrogados por cerca de seis horas. Castro confessou a participação crime e disse que o combinado era matar o fiscal Nelson. Afirmou também que não tinha convívio com Mânica. Já o fazendeiro negou ter feito ameaças ao fiscal e ter participado das mortes. Mânica disse desconhecer o motivo pelo qual o empresário Hugo Pimenta o aponta como mandante do crime.
Na chegada para este quarto dia, os advogados deram declarações. “Toda a prova técnica que se tentou fazer contra o Norberto nós derrubamos.”, afirmou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa o fazendeiro. “Sustento que Hugo Pimenta está mentindo desde o início, com provas. Vamos mostrar na prova que ele não está falando a verdade”, disse o advogado Cleber Lopes, que defende José Alberto de Castro.
A viúva do fiscal Nelson, Elba Soares cobrou punição para os envolvidos. “Sabendo da impunidade, que quem mandou fazer está vivendo como se nada tivesse acontecido, é a dor maior. […] Queremos só a justiça. Não queremos maldade. Queremos só o justo”, disse.
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Imagem: Advogado Kakay e o réu Norberto Mânica na chegada para o quarto dia de júri da chacina de Unaí (Foto: Pedro Ângelo/G1)