Seminário reuniu pesquisadores e especialistas de diversas entidades, que analisaram os efeitos desses alimentos no Brasil e no mundo.
Por José Coutinho Júnior, da Página do MST
Além da venda de produtos e da programação cultural, a 1a Feira Nacional da Reforma Agrária é palco de debates e seminários. Na manhã desta sexta-feira (23) ocorreu o seminário “a realidade dos agrotóxicos e transgênicos no Brasil e seus impactos sobre a saúde humana e ambiente”.
Estavam presentes na mesa Leonardo Melgarejo, da Campanha contra os Agrotóxicos; Luiz Cláudio Meirelles, da Fiocruz; Sheila Castro, do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Javier Balbea, da Rede de Médicos da Argentina.
Meirelles iniciou o debate com um panorama sobre o uso de agrotóxicos no Brasil e como os trabalhadores rurais são os principais afetados: de 1 milhão de intoxicações acidentais, 700 mil se dão no trabalho.
“Há mais pessoas contaminadas por agrotóxicos do que mostram os dados oficiais. Não temos políticas públicas de saúde adequadas para fazer o enfrentamento com as grandes indústrias”.
O pesquisador também afirmou que existem leis de segurança e regulamentação para os agrotóxicos, mas que “o estado é omisso em cobrar essas ações das empresas”.
Sheila questionou a falta de estudos que comprovem a toxidade dos agrotóxicos, e como os poucos estudos feitos são incompletos. “Não existe no Brasil um prazo de revisão dos agrotóxicos. E quando há estudos para avaliar sua toxidade, eles são imprecisos, pois se avalia a substância individualmente, quando na realidade os alimentos contaminados têm muitas substâncias tóxicas juntas”.
A pesquisadora mostrou estudos e análises nas quais os alimentos que foram produzidos e comercializados em 2014 e tinham grande quantidade de agrotóxicos. Dentre todos, o morango era campeão, com 14 substâncias tóxicas diferentes.
Em relação aos transgênicos, o médico Javier Balbea acredita que eles são um instrumento de controle. “Está comprovado que os transgênicos não diminuem a fome e aumentam o uso de agrotóxicos, e não o contrário. O alimento é uma construção social e cultural. Os transgênicos padronizam tudo isso e estabelecem uma forma de domínio dos nossos territórios”.
Ele lembrou que os agrotóxicos não estão presentes apenas na comida. Pesquisas de cientistas argentinos apontaram que o algodão, produzido com uso do veneno glifosato, fica contaminado. “Os pesquisadores descobriram que, todas as amostras selecionadas de algodão usado em hospitais e em absorventes femininos continham glifosato”.
Leonardo Melgarejo, da Campanha contra os Agrotóxicos e ex-membro da CTNBio, apontou que a comissão nunca cumpriu as exigências de estudos de risco para liberar os transgênicos no país.
Ele afirmou que a função dos transgênicos não é acabar com a fome ou ser mais produtivos, e sim “criar uma marca” para as empresas.
“Não temos nenhum transgênico modificado para aumentar a produtividade, e sim para absorver veneno e permitir a criação de patentes. É uma tecnologia que serve apenas para perpetuar a pobreza.”