Yago Ikeda ficou quatro dias desaparecido após abordagem policial no Grajaú, zona sul de São Paulo. Em protesto contra a morte do garoto, moradores da região queimaram ônibus. Em apenas cinco meses, é o segundo caso de jovem morto pela PM de SP que gera revolta no mesmo bairro da periferia paulistana
Por Luís Adorno e André Caramante, Ponte Jornalismo
O estudante Yago Ikeda, de 16 anos, foi encontrado morto com seis tiros na última terça-feira (20/10) após ter ficado quatro dias desaparecido. Familiares afirmam que o desaparecimento ocorreu após abordagem policial próximo de onde morava, quando voltava da casa da avó, no Grajaú, zona sul de São Paulo.
Testemunhas afirmaram à família que os policiais militares admitiram que Yago não tinha nada de errado quando morto, mas disseram que o jovem tinha envolvimento com criminosos.
Em maio deste ano, a Polícia Militar de São Paulo já havia matado Lucas Custódio dos Santos, o Dudinha, negro, também de 16 anos. Assim como no caso de Yago, os moradores do Grajaú queimaram ônibus para protestar e chamar a atenção das autoridades pela letalidade militar na área.
A versão dos policiais causou revolta em quem conhecia Yago. Por isso, houve uma manifestação na noite de quarta-feira (20/10) na avenida Belmira Marin, a principal via do Grajaú, em que um ônibus foi incendiado. A garçonete Rosângela Gonçalves de Araújo, de 37 anos, tia da vítima, afirmou que a família ficou aflita desde o desaparecimento, porque todos que viram Yago pela última vez disseram que ele estava com policiais.
“Como sobrinho, como ser humano, o Yago foi uma criança maravilhosa. Era respeitador, amoroso, nunca tive nenhuma discussão. Só paz e amor”, disse à reportagem da Ponte Jornalismo a tia do garoto. “A mãe dele é muito trabalhadora. Por isso, ele vivia muito com a avó. O que mais dói, como tia, é que não pude aproveitar o tempo com ele. Não foi suficiente o tempo de vida dele. Já dá saudade”, complementa Rosângela.
Um vídeo com o 1º tenente André Silva Rosa divulgado nas redes sociais supostamente mostra o corpo de Yago na avenida Grande São Paulo. Em uma “entrevista”, o policial diz a vítima morreu em uma tentativa de assalto. Ele afirma que Yago e um outro rapaz anunciaram a venda de um celular caro nas redes sociais. No local, eles tentaram praticar um roubo, mas não contavam que o comprador era um policial, que reagiu. “Esse é o caminho que o ladrão escolheu, infelizmente”, diz.
Nos comentários da rede social, a maioria dos usuários desconfiou do vídeo. “Eles combinaram de fazer uma transação de R$ 1,9 mil à noite numa viela?!”, questiona um rapaz. “Como pode tanta injustiça? Ninguém fala que não era um homem, era um menino, e que o menino estava passando e o policial confundiu com outro e atirou. E que ele também mora na rua do menino. A bala do tiro desapareceu e a família só soube depois de 5 dias. boca fala o que quer, acredita quem quer”, escreveu outro.
A tia do menor de idade rechaça a hipótese levantada pelo tenente. “O Yago era uma criança muito doce. Ele ia pra escola, tinha amizades com todo mundo no bairro em que morava. As pessoas sempre foram muito carinhosas com ele”.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que tem à frente Alexandre de Moraes, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), não se manifestou até a divulgação desta reportagem.
Essa é a segunda vez que, nesta semana, a gestão de Alckmin e a Polícia Militar de São Paulo deixaram de responder sobre mortes questionáveis cometidas por militares.
O mesmo aconteceu com o homicídio do idoso Francisco Pedro de Souza, 69 anos, morto dia 14/10, com dois tiros no peito, disparados por um sargento da PM.
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Imagem: Yago Ikeda tinha 16 anos