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No sábado, 3 de outubro, cerca de 60 moradores da Rocinha se reuniram na Praça Roupa Suja para discutir seus sonhos e esperanças para a comunidade no último evento da série “Se a Cidade Fosse Nossa“. Conforme descrito na página do evento no Facebook, os moradores foram convidados a se perguntar: “E se nós, que enfrentamos todos os dias os ônibus e trens lotados, as filas nos hospitais e sofremos com escolas sucateadas, pudéssemos opinar e decidir sobre todas as políticas públicas? Imagine como seria o Rio de Janeiro se o transporte, a educação e a saúde fossem nossas”.
Antes de começar, as crianças da comunidade se reuniram na praça para criarem cartazes que descreviam seus desejos para a comunidade “se a Rocinha fosse deles”. Quando perguntado sobre os cartazes mais tarde, um jovem rapaz disse: “Se a Rocinha fosse minha, eu faria todos felizes”.
O evento começou com uma apresentação do grupo de teatro Bando Cultural que se vestia como diferentes animais e conduziam atividades e jogos para crianças. Isso encorajou pais a comparecerem ao evento e a participarem da discussão.
Após o evento cultural os moradores se sentaram para discutir questões que envolvem saúde, saneamento, transporte, segurança, cultura, e o uso de espaços públicos. Conforme descrito na descrição do evento: “Essas perguntas unem todas as pessoas que acreditam que a cidade é feita por aqueles que vivem nela, que se divertem, estudam, trabalham, amam e sonham. Queremos um Rio de direitos, mais humano, em que o lucro não esteja acima da vida.”
Roberto Lucena, morador e membro do Rocinha sem Fronteiras, falou sobre questões como saneamento das favelas e criticou o plano do governo de construir um teleférico sem consultar os moradores: “Eles pensam num planejamento e não perguntam para os moradores o que de fato precisam”.
Desde o anúncio dos Jogos Olímpicos, as autoridades do Rio têm priorizado intervenções visíveis nas favelas. O efeito, muitos concordaram, é que ao invés de melhorar a vida dos moradores, estes eventos simplesmente promovem a imagem da cidade. Roberto expressou a opinião de que um teleférico só vai impulsionar o turismo, enquanto as necessidades urgentes da comunidade continuam negligenciadas.
A falta de um sistema de saneamento eficaz na Rocinha está diretamente relacionado a uma outra questão urgente na comunidade: cuidados de saúde. Rocinha tem uma das mais altas taxas de tuberculose no estado, porém ainda não é suficientemente atendida pelo sistema público de saúde. Um morador disse: “A saúde é um direito básico de todos, precisamos de mais especialistas no Centro de Saúde Municipal e existe uma enorme falta de médicos”.
Embora a discussão tivesse sido interrompida devido à chuva, muitos membros da comunidade foram capazes de falar sobre questões que afetam suas vidas diariamente. Ficou claro que a comunidade tem sofrido problemas recorrentes há décadas e que as questões relacionadas ao saneamento e saúde são prioridades imediatas. Os participantes enfatizaram os aspectos culturais e o verdadeiro valor da comunidade, bem como a necessidade de obter demandas urgentes atendidas. Como Ritinha declarou: “Não é ‘Se a Rocinha Fosse Nossa’. A Rocinha é nossa.”