Indígenas denunciam ação policial em invasão no Tarumã

Indignados, eles elaboram um documento para ingressar no MPF contra a ação policial que resultou na morte de um indígena 

Náferson Cruz – A Crítica

“A polícia agiu com truculência e ainda utilizou atiradores de elite para matar um indígena, sem mandado de prisão”. Estas foram as palavras de repulsa do cacique-geral, Natanael Munduruku, da aldeia Pataquá, no município de Tefé, contra a ação policial feita na manhã do último dia 7, na invasão Cidade das Luzes, no bairro do Tarumã, Zona Oeste, que culminou com a morte de um indígena, Anderson Rodrigues de Souza, 31 anos, morto com um tiro.

Indignados, representantes das etnias Munduruku, Atroari, Mura e Borari, darão início hoje, a elaboração de um documento para ingressar junto ao Ministério Publico Federal no Amazonas (MPF-AM), para que órgão apure a ação tida pelos indígenas como ilegal.

“Os policias chegaram ao local não para fazer prisões e apreensões, mas para entrar em conflito, pois o indígena morto não era alvo da operação”, disse Natanael.

De acordo com os indígenas, policiais civis cumpriram a reintegração de posse e alegaram que foram recebidos com hostilidade não procede. Familiares da vítima desmentem a história e alegam que Anderson foi alvejado pelos policiais sem nenhum motivo. A vítima deixou um filho de três anos e a mulher grávida.

Em coletiva, o secretário Segurança Pública, Sérgio Fontes, disse que um grupo de aproximadamente 20 pessoas atirou flechas na polícia para facilitar a fuga do líder comunitário Sebastião Kokama.

A assessoria de imprensa da SSP informou por telefone que Anderson Rodrigues, vítima do tiro, não é indígena.

MilíciaA operação na invasão Cidade das Luzes, levou ainda à descoberta da existência de uma milícia operando na invasão Cidade das Luzes, e apontou índícios de existência de um cemitério clandestino batizado de “tribunal de julgamento da facção criminosa Família do Norte (FDN)”.

Quanto a esse posicionamento da polícia, os representantes indígenas disseram que não há milícia no local, mas famílias carentes em busca de moradias. “A polícia não pode fazer uma ação dessa forma e se há culpados que punam a pessoa certa. Esperamos que haja justiça”, disse o membro do movimento indígena, Raimundo Atroari.

Dano ambiental em área verde

Durante um sobrevoo na invasão, três fatores chamaram a atenção do secretário de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), Sérgio Fontes, e do comandante da Polícia Militar, Marcus Frota.

A primeira foi o dano ao meio ambiente, com derrubada de árvores e contaminação dos igarapés em uma área de preservação; a outra foi a existência de propriedades de luxo, como prédio de dois andares, empresas comerciais com pá mecânica e caminhões.

Para alguns desses, o Ministério Público pediu a perda de propriedade. Por fim, conta Fontes, há ainda uma grande área dentro da invasão sem ocupação.

Entretanto, os representantes indígenas rechaçaram o posicionamento de Fontes e de Frota. Eles alegaram que não há milícias atuando no local, como relatado pela polícia, bem como, a degradação de área verde, que segundo eles, foi em uma outra área próxima e feita por empresários.

Foto: Representantes indígenas das etnias Munduruku, Atroari, Mura e Borari, afirmam que índio morto não era alvo da operação (Clóvis Miranda)

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