Cimi, Regional Cimi Maranhão e Justiça nos Trilhos
Desde a tarde de ontem (5), por volta das 16h30, cerca de 80 integrantes dos povos indígenas Krenyê, Gamela, Kreepynm, Gavião, quilombolas do Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) e quebradeiras de coco do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (Miqcb) ocupam a Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) sediada no município de Imperatriz, no Maranhão.
A ocupação faz parte da Mobilização Nacional da Articulação de Povos e Comunidades Tradicionais que denuncia o severo aumento da violência no campo contra camponeses, quilombolas, indígenas e diversas comunidades tradicionais; o desmonte dos direitos constitucionais indígenas e de outros povos, dentre eles, principalmente a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 – que transfere do Poder Executivo para o Legislativo a prerrogativa de demarcar terras indígenas, titular territórios quilombolas e criar unidades de conservação ambiental; a paralisação das demarcações e titulações de terras indígenas e quilombolas; e ainda, recentes decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que anularam atos administrativos do Executivo de três terras indígenas, dentre elas a revisão dos limites da Terra Indígenas Porquinhos, dos Kanela Apanyekrá.
Ontem em reunião com Maria José Barros, coordenadora substituta da regional da Funai, ela disse que encaminharia as reivindicações para a Funai em Brasília. Hoje, pela manhã, uma outra reunião acontece com a coordenadora que explica qual a posição e os encaminhamentos do órgão indigenista diante das demandas dos povos e das comunidades tradicionais.
Reivindicações históricas
Entre as reivindicações dos manifestantes, destaca-se a luta pelo reconhecimento étnico e territorial. Um grande impasse é a realidade enfrentada pelo povo Krenyê, que foi retirado de seu território originário na primeira metade do século XX devido a conflitos com criadores de gado e uma epidemia de sarampo. Em razão disso, durante cinco anos viveram na periferia da cidade de Barra do Corda (MA) de forma precária, sem assistência dos órgãos públicos responsáveis em atender os povos indígenas e, enfrentando preconceito e discriminação.
Em 2010 os Krenyê adquiriam uma chácara com recursos próprios, onde constituíram a Aldeinha São Francisco e vivem à espera da demarcação de sua terra, enfrentando ainda uma série de dificuldades no que diz respeito ao atendimento à saúde, educação e outros.
Em relação ao povo Gamela, reivindica-se a publicação da portaria criando o Grupo de Trabalho para a identificação e delimitação do território tradicional, além da ações imediatas no sentido de combater a destruição ambiental do mesmo. O povo Gavião pede a continuidade do processo de regularização fundiária, com a publicação do relatório circunstanciado e o povo Kreepum Catiji solicita a realização de uma audiência pública com a Funai, Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Polícia Federal e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), sob a supervisão do Ministério Público Federal (MPF) para solucionar questões relacionadas às invasões dos territórios e de assistência à saúde.
Resistência nacional
A ocupação deve seguir pelos próximos dias e além dos povos indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco, participam da ocupação integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Rede Justiça nos Trilhos, com o apoio e a solidariedade da Associação dos Catadores de Material Reciclável (Ascamari) e do Movimento das Comunidades Produtoras (MCP), da Caritas, das Dioceses de Viana e Imperatriz e da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão.
Em Brasília, a Mobilização Nacional da Articulação de Povos e Comunidades Tradicionais reúne nesta semana cerca de 200 indígenas, quilombolas, gerazeiros, pescadores, apanhadores de flores sempre viva e comunidades tradicionais, com o objetivo principal de reivindicar direitos territoriais.
Após a realização de uma audiência pública, ontem (5) à tarde na Câmara dos Deputados, sobre a violência no campo devido aos conflitos fundiários, os manifestantes resolveram passar a noite no Congresso em uma vigília para denunciar o aumento desta violência, denunciar a PEC 215 – que pode ser votada ainda nesta semana e exigir punição aos criminosos que matam e violentam as lideranças das comunidades e povos tradicionais impunemente, dentre outras motivações.
Infelizmente, exatamente no dia em que deveria-se celebrar os 26 anos da promulgação da Constituição Federal, considerada um importante marco no estabelecimento de direitos humanos, principalmente para as minorias, o presidente da “Casa do Povo”, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mandou a Tropa de Choque cercar o plenário 1, sitiando-o, além de desligar o ar condicionado e as luzes da sala sem janelas, em mais uma atitude arbitrária e autoritária.
No entanto, como divulgado pela Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais, os manifestantes resistiram cantando, tocando e debatendo a luta por seus direitos a noite toda, porque “é melhor morrer lutando do que viver escravizado!”. Pela manhã, fizeram uma ciranda em frente à Câmara e avisaram que “a luta pelos direitos dos povos do campo continua”.