Mais uma vez o ex-ministro Alexandre Padilha é agredido verbalmente em um restaurante em São Paulo. (Talvez até fisicamente, eu diria, a se pensar nas prováveis parábolas expelidas por aquelas bocas salivantes). Ver aqui.
Primeiro tendo a enxergar uma crítica involuntária ao movimento de desmanicomialização. Mas tento abdicar do meu tema-fetiche (vejo a saúde mental como anterior ao capitalismo ou outros assuntos estruturantes…) e ver naquela cena grotesca mais fascismo, fenômeno de massas, do que indivíduos potencialmente insanos. Organizadamente perigosos, digamos. Covardes em turma, sim. Ao mesmo tempo personagens, avatares, símbolos.
Em seguida, em mais um esforço de abstração, substituo os nutridos manifestantes do vídeo pelas figuras de Dilma Rousseff, Michel Temer, Eduardo Cunha e o movo ministro da Saúde, Marcelo Castro. Como se eles estivessem ali, gesticulando para Padilha e Arthur Chioro saírem de cena. Só que muito educadamente. “Com licença, senhores, cada um para o seu lugar, a saúde agora voltará a ser gourmetizada”.
Estou querendo dizer que o silêncio da política brasiliense pode ser mais danoso que essa violência explícita – e preocupante – dos fascistas de guardanapo. Um oligarca no Ministério da Saúde significa ainda mais do que esse histrionismo cafona (com atores ruins, visivelmente fora de forma) da elite branca paulistana. São dezenas de milhões de alvos – menos encouraçados que Padilha.
O programa Mais Médicos era candidato à melhor ação do governo Dilma. Até por fazer espumar de raiva essas mesmas elites que não toleram qualquer política minimamente inclusiva. Que odeiam Cuba, mas amam paredões. Mas a própria presidente quebra a vitrine e sinaliza alguns passos para trás, com esse ministro Castro (as ironias, as ironias), com esse milagre da perpetuação das oligarquias castradoras.
Ficamos assim. Ela faz tudo o que os predadores gélidos do PMDB querem, e estes mantêm seu capital político cultivando esse analfabetismo político mercurial. Padilha vai para casa (impossível não ter um tio do pavê entre aqueles comensais), Chioro vai para casa, e a saúde pública brasileira vai sendo transferida mais uma vez (ainda que com o orçamento violentado) para essas mãos gélidas e gordas.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.