Blogueiro, por sua vez, sugere que conectividade e novas tecnologias espantam solidão e amplia horizontes: estará o copo meio cheio ou meio vazio?
Por Lloyd Alter, Mother Nature Network/Opera Mundi
O último livro de Sherry Turkle se chama Sozinhos Juntos: Por que esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros, título que basicamente descreve sua tese sobre as novas tecnologias. Ela vem estudando no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), há muitos anos, a forma como as pessoas usam a tecnologia e, mais recentemente, analisou como os smartphones estão mudando a comunicação e os relacionamentos entre as pessoas.
Turkle abordou o tema em um recente artigo no New York Times, e descreveu um estudo que indica um declínio de 40% na capacidade de sentir empatia entre estudantes de nível universitário, “com a maior parte deste declínio tendo ocorrido após o ano de 2000”. Ela escreve:
“Ao longo de várias gerações, a tecnologia está implicada neste ataque à empatia. Nós nos acostumamos a estar conectados o tempo todo, mas acabamos por escapar de conversas, ao menos de conversas abertas e espontâneas, em que brincamos com as ideias e nos permitirmos estar plenamente presentes e vulneráveis. Mas é neste tipo de conversa, em que aprendemos a fazer contato visual, a nos tornar conscientes da postura e do tom de voz de outras pessoas, a oferecer consolo e a respeitosamente contestar uns aos outros, que a empatia e a intimidade florescem. Nestas conversas, aprendemos quem somos”.
Ao ler isto, minha pergunta foi o que exatamente ela entende por “empatia”. Consultando o estudo original citado,
Em geral, a empatia parece possibilitar que as pessoas se relacionem umas com as outras de modo que promova a cooperação e a unidade, em contraposição ao conflito e ao isolamento. (…) As mudanças na capacidade das pessoas de sentir empatia, averiguadas ao longo do tempo, podem ajudar a explicar certas tendências interpessoais e sociais que sugerem que, hoje em dia, as pessoas são menos empáticas do que as gerações anteriores.
E, de fato, o estudo mostra um declínio significativo na empatia, que atribui às crescentes expectativas de sucesso por parte dos estudantes, ao aumento do narcisismo e do individualismo, às mudanças na relação com os pais e, sim, às inovações tecnológicas.
Nós especulamos que um fator contribuinte no declínio da empatia é o crescente uso de tecnologias e mídias pessoais no dia-a-dia. Claramente, estas mudanças têm afetado fundamentalmente as vidas de todos os que têm acesso a elas. Por passarmos tanto tempo interagindo uns com os outros online e tão pouco tempo fazendo-o na vida real, dinâmicas interpessoais, como a da empatia, podem certamente ser alteradas. Por exemplo, talvez seja mais fácil estabelecer amizades e relacionamentos online, mas estas habilidades não se traduzem em relações sociais agradáveis na vida real.
Turkle observa que o telefone reduz nossa paciência; queremos tudo agora. Ela diz que deveríamos passar mais tempo com nossos próprios pensamentos, que deveríamos parar de realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Deveríamos usar a função “não perturbe” de nossos celulares e nos permitir momentos desconectados. Seguir a “regra dos sete minutos”, em que você permite que uma conversa se desdobre naturalmente, incluindo seus silêncios necessários. “A conversa, assim como a vida, tem silêncios: aquilo que alguns jovens que entrevistei chamaram de ‘a parte chata'”. Frequentemente, é nos momentos em que tropeçamos nas palavras, hesitamos e ficamos em silêncio que mais nos revelamos para as outras pessoas”.
Eu suponho que tudo isso seja verdade. Mas como alguém da mesma geração de Sherry Turkle, que também testemunhou tais mudanças, acredito que ela assume um ponto de vista bastante parcial.
Também é verdade que, quando eu visitava minha falecida sogra, a televisão estava sempre ligada, distraindo-a da realidade e de sua própria solidão. E que quando eu tomava o trem, notava que todos estavam completamente imersos em seus jornais ou revistas. E que era impossível falar com pessoas jovens porque estavam sempre ouvindo música muito alta.
Ou que, quando eu tinha a idade de minha filha, meu pai me ligava todos os dias e dizia: “ligue para sua mãe. Ela está chateada porque você nunca fala com ela”. Minha filha, no entanto, pode estar passeando em qualquer outra cidade e, se vir alguma coisa que acha que irá me interessar, certamente me enviará uma mensagem.
Ou mesmo que, fora um pequeno grupo de amigos que conheci na faculdade de Arquitetura, quase todas as pessoas com quem falo são contatos advindos da internet. Quando pergunto, no Twitter: “quem vai à exposição Greenbuild?”, recebo dezenas de respostas de pessoas que querem se encontrar por lá.
Turkle também se esquece de que tínhamos outras coisas para nos distrair no lugar dos celulares. Aqueles que não conseguiam ficar sentados sem fazer nada por mais de dois minutos iam fumar ou dar um jeito de escapar de uma conversa buscando mais cerveja. Eu frequentemente me levantava e simplesmente ia embora quando não aguentava mais estar em algum lugar e as pessoas me achavam terrivelmente rude por isso. Meu filho herdou minha limitada capacidade de manter o foco e, se não está mexendo em seu celular, está batucando na mesa ou fazendo qualquer outra coisa irritante; o celular é sua abençoada chupeta.
Estaria o celular reduzindo a empatia? Talvez, mas os motivos podem ser vários outros, afinal, o declínio começou muito antes dos aparelhos terem se tornado comuns. No entanto, pode-se afirmar que o celular aumentou a conectividade e a compreensão mútua de outras formas, aumentou nossos horizontes e diminuiu significativamente nossa solidão. Eu acho que o copo está meio cheio, e não vazio.
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Texto publicado originalmente no site Mother Nature Network.
Destaque: Foto: Flickr /CC /Kārlis Dambrāns.