Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
A Agência FAPESP divulgou hoje notícia sobre quatro prêmios que a Fundação Bunge está oferecendo para acadêmicos e pesquisadores, nas áreas de Ciências Agrárias e de Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde. Os trabalhos devem ter como temas “Recuperação de solos degradados para a agricultura” ou “Saneamento básico e manejo de água”, e os vencedores receberão, ao todo, R$ 420 mil.
No seu saite, a Bunge se apresenta como “Uma empresa global e integrada de agronegócio, alimentos e bioenergia, que opera em toda a cadeia produtiva do campo à mesa do consumidor”. E mais: “como uma das maiores exportadoras do país (a primeira em agronegócio)”. O que ela não comenta é o estrago que faz com seus monocultivos, agrotóxicos etc Brasil afora e, ainda, sua reiteradamente denunciada colaboração na extinção do Cerrado.
Aliás, nas comemorações do 8 de março deste ano, a Bunge recebeu em sua sede de Luziânia, arredores de Brasília, a visita de cerca de 800 mulheres da Via Campesina. Na ocasião, Tábata Neves, coordenadora do Movimento Camponês Popular (MCP), denunciou ainda: “a comercialização de produtos transgênicos só aumenta o uso de agrotóxicos. Todos os transgênicos são somados a agrotóxicos, num pacote já patenteado por grandes empresas como a Bunge. O uso é tão intensivo que pesquisadores já encontraram contaminação de veneno agrícola até em leite materno, como aconteceu em Lucas do Rio Verde, no norte do Mato Grosso”.
Os conflitos socioambientais no quais ela está envolvida se espraiam também através de terceirizadas. Nesses casos, envolvem de desmatamento para a produção de carvão, no Piauí, a uma questão que o Ministério Público Federal tenta resolver desde 2010 no Mato Grosso do Sul: o uso de açúcar proveniente de monocultivos de cana em terras ocupadas, que já foram formalmente reconhecidas como territórios Guarani e Kaiowá.
Não sei se a Agência FAPESP ignora esses e outros ‘detalhes’, ou se encara de forma pragmática a premiação, como provavelmente farão alguns candidatos. Agora, se a Bunge estivesse mesmo preocupada com a degradação dos solos para a agricultura e com a questão da água, deveria começar ouvindo os protestos que contra ela fazem a Via Campesina e todas as entidades e pessoas que se preocupam com a preservação dos biomas e da saúde de povos e comunidade, do campo e das cidades. Mas isso… Melhor gastar R$ 420 mil e ‘faturar’ publicidade barata com a ajuda da academia e de alguns pesquisadores, não?
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A notícia da Agência FAPESP sobre os prêmios está AQUI.
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Destaque: Protesto das mulheres da Via Campesina na sede da Bunge em Luziânia. Foto: MST