O pedido do MPF faz ainda uma referência ao posicionamento da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) que já emitiu nota sobre o documentário. No texto, a entidade afirma que o filme é resultado da encenação de uma entidade fundamentalista norte-americana.
O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília pediu que a Justiça proíba a veiculação do documentário Hakani – A história de uma sobrevivente. Para o órgão, o vídeo produzido por duas organizações religiosas pode incitar o ódio, aumentar o preconceito contra comunidades indígenas, além de configurar um abuso à liberdade de expressão. Produzido a partir do drama de Hakani, uma criança da tribo Suruwahá que foi adotada por um casal de missionários, o documentário trata do tema infanticídio.
A afirmação dos pais adotivos – que são os coordenadores de uma das entidades – é que a menina foi salva pelo irmão depois de ter sido enterrada viva. Embora raro, o infanticídio ainda faz parte da cultura de algumas etnias, como a Suruwahá. Pela tradição, são enterradas crianças com deficiências ou com atrasos severos de desenvolvimento. Na ação civil pública, a procuradora da República Ana Carolina Alves Roman pediu que o material deixe de ser exibido, que as entidades sejam proibidas de expor imagens de crianças indígenas e, ainda, que sejam condenadas a pagar R$ 1 milhão de indenização por danos morais coletivos. Os responsáveis pelo vídeo são as entidades Jocum Brasil (Jovens com uma Missão) e Atini: Voz pela Vida.
No pedido a ser analisado pela Justiça Federal, a produção é classificada como “mais um elemento da campanha difamatória em face dos índios brasileiros, bem como uma justificativa para a atuação religiosa e missionária das organizações em aldeias indígenas”. Entre as atividades desenvolvidas pelas duas organizações estão a evangelização e a formação de jovens missionários para atuarem junto aos povos indígenas, em especial na Amazônia, onde o objetivo era erradicar o infanticídio.
A procuradora lembra que, ao ser disponibilizado via internet – no Youtube com link direto do canal oficial da Jocum – , o documentário gerou na população um sentimento de revolta em relação aos povos indígenas. Comentários postados na internet e reproduzidos no documento enviada à Justiça usam expressões como “bichos do mato e barbárie” para se referir ao episódio. Outros sugerem que os líderes das aldeias é que deveriam ser enterrados. Ana Carolina Roman lembra ainda que, embora trate de uma simulação, a produção é capaz de confundir quem assiste ao vídeo. “O atores, todos indígenas, dão à produção um tom de verossimilhança capaz de confundir o telespectador, que acredita estar assistindo a um documentário e, portanto, pensa testemunhar um verdadeiro infanticídio”, afirma em um dos trechos da ação.
O pedido do MPF faz ainda uma referência ao posicionamento da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) que já emitiu nota sobre o documentário. No texto, a entidade afirma que o filme é resultado da encenação de uma entidade fundamentalista norte-americana. “Não é uma campanha pró-vida, mas uma tentativa de criminalização das coletividades indígenas, colocando-as na condição permanente de réus”, classificou a ABA. Diante dos danos causados pela exibição do documentário, o MPF solicitou a suspensão imediata da veiculação por meio de liminar.
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Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República no Distrito Federal
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Destaque: Foto de Claudia Andujar, reproduzida da internet