Gravações enviadas para a ONG Amazon Watch são descritas como ‘verdadeiro tratado de má conduta e prevaricação corporativa da Chevron’
Por Lauren McCauley, no CommonDreams/Carta Maior
Supostas “fortes evidências” de culpa e corrupção da Chevron num caso de vazamento de petróleo na Amazônia equatoriana vieram à tona numa série de vídeos internos enviados a uma ONG ambiental. As imagens mostram técnicos da companhia constatando e zombando da extensa contaminação de óleo em áreas que a gigante do petróleo afirmou, diante de tribunais, terem sido restauradas.
Um denunciante de dentro da Chevron teria enviado “dezenas de DVDs” para a sede americana da ONG Amazon Watch com uma nota manuscrita afirmando: “Espero que isto seja útil para vocês em seu processo contra a Texaco/Chevron. Assinado: Um amigo na Chevron”.
Os vídeos eram todos intitulados “pré-inspeção”, com datas e locais das antigas instalações de produção de petróleo em que estavam programadas inspeções judicialmente supervisionadas. A filmagem foi feita pela Chevron durante uma visita anterior ao local para determinar onde amostras limpas poderiam ser colhidas.
De acordo com a Amazon Watch, nas fitas:
“Empregados e consultores da Chevron podem ser ouvidos fazendo piada sobre a poluição visível em amostras de solo extraídas de aterros de resíduos que a Chevron garantira diante de cortes americanas e equatorianas terem sido tratados em meados dos anos 1990”.
Em um vídeo de Março de 2005, um funcionário da Chevron chamado Rene, provoca um consultor da empresa de nome Dave, no local do poço Shushufindi 21: ‘… Você continua a encontrar petróleo em locais onde não deveria haver petróleo… Bom trabalho, Dave. Te dou uma tarefa simples: não encontre petróleo’.
Em outros vídeos, moradores locais entrevistados sobre a poluição contam como “aquela empresa” nunca limpou realmente os aterros de resíduos, apenas cobrindo-os de terra para tentar esconder a contaminação.
“Isto mostra que a Chevron tem culpa – primeiro ao contaminar a região. Depois, por manipular e ocultar provas”, disse Paul Paz y Miño, diretor de comunicação da Amazon Watch.
Em fevereiro de 2011, um tribunal equatoriano declarou a gigante do petróleo culpada e condenou-a a pagar 8 bilhões de dólares por danos ambientais, sentença que a empresa chamou de “ilegítima”, da qual recorreu. Em 2014, um juiz de um tribunal federal norte-americano deu ganho de causa à Chevron e anulou aquela decisão, alegando ter sido obtida por “meios corruptos”. No dia 20 de abril, um tribunal federal de Manhattan vai fazer novas oitivas a pedido da acusação.
“Enquanto seus técnicos fraudavam as provas, a equipe gerencial da Chevron lançou uma campanha para demonizar os equatorianos e seus advogados como forma de desviar a atenção da má conduta da empresa”, acrescentou Paz y Miño.
A Chevron nunca entregou nenhum dos vídeos secretos para o tribunal equatoriano que conduz o julgamento. Nem submeteu a ele os resultados de amostragem pré-inspeção.
Em um post em seu blog na última quarta-feira, o coordenador do programa Amazon Watch do Equador Kevin Koenig explica que, ao receber as fitas, a organização as entregou à equipe jurídica que representa as comunidades indígenas e agricultores impactados.
“Os vídeos são um verdadeiro tratado de má conduta e prevaricação corporativa da Chevron”, escreveu. “Ironicamente, a própria Chevron comprovou sua autenticidade.” Koenig continua: “Quando os advogados da acusação tentaram usar os vídeos no tribunal para interrogar um “cientista” da Chevron, a empresa se opôs”.
Uma carta enviada pela firma de advocacia Gibson Dunn, que representa a Chevron, ao advogado das comunidades afetadas afirma que: “Estes vídeos são de propriedade da Chevron, e são documentos confidenciais e/ou material protegido. A Chevron exige informações detalhadas sobre como esses vídeos foram adquiridos e sobre o uso feito deles… Além destas informações, a Chevron exige que os vídeos indevidamente obtidos sejam devolvidos imediatamente, bem como todas as cópias dos mesmos, devendo ser enviados à minha atenção no endereço acima”.
“Esses vídeos explosivos confirmam a conclusão da Suprema Corte equatoriana depois de analisar as evidências: que durante anos a Chevron mentiu sobre a poluição causada por ela no Equador”, Koenig acrescentou.
A Chevron admitiu ter jogado quase 16 bilhões de galões de água contaminada no processo de perfuração de petróleo em rios e córregos utilizados por milhares de pessoas para matar a sede, tomar banho e pescar. A empresa também abandonou centenas de poços abertos e sem forro, cheios petróleo, lodo e de resíduos químicos da extração de petróleo por toda a Amazônia equatoriana.
Tradução de Clarisse Meireles