Criado em 1992, 21 é um divisor de águas na história do Grupo Corpo. Depois de atuar por uma década com temas musicais preexistentes, com este balé, a companhia mineira de dança não apenas volta a trabalhar com trilhas especialmente compostas – como acontecera em seus primórdios nos bem-sucedidos Maria, Maria e Último Trem, ambos com música original de Milton Nascimento e Fernando Brant – como passa a adotar como regra este critério. A decisão proporciona a Rodrigo Pederneiras a oportunidade de dar início à construção do extenso vocabulário coreográfico, de inflexões notadamente brasilianas, que se tornaria marca registrada das criações do grupo.
Da teia de combinações rítmicas e timbrísticas em torno do número 21, contida nas partituras geometrizadas criadas por Marco Antônio Guimarães – diretor artístico do Uakti Oficina Instrumental e idealizador dos inusitados instrumentos que lhe conferem uma singularíssima sonoridade –, Rodrigo Pederneiras cria uma escritura coreográfica cujo pulso, ou impulso, é de transpiração matemática.
Dividido em três movimentos reproduz através de múltiplas repetições de movimento, a escala decrescente do 21 até o 1; desenha oito pequenos hai-kais coreográficos; e explode no final, numa dança colorida e contagiante que remete aos folguedos populares e às festas do interior. A força contida na tensão entre as cores vermelha, da luz chapada de fundo, e amarela, das malhas utilizadas pelos bailarinos, dá o tom da primeira parte do balé, enquanto uma gigantesca colcha de retalhos, exibindo estampas de colorido vibrante, deixa antever a explosão do momento final do balé, quando os figurinos, sempre colantes, fazem alusão ao patchwork do cenário.
Foto capturada do vídeo.