Grupos sociais fazem ato em favor de carioca presa por morte de italiana

[Mirian França] Carioca está presa desde 29 de dezembro em delegacia de Fortaleza. Segundo polícia, ela é suspeita da morte da italiana Gaia Molinari

Do G1 CE

Movimentos sociais em defesa dos negros e mulheres realizaram no fim da tarde desta sexta-feira (9) um ato pela liberdade da carioca Miriam França, presa por suspeita de participar da morte da italiana Gaia Molinari. Cerca de 30 pessoas se reuniram em frente à Delegacia de Capturas, no Centro de Fortaleza, onde Miriam está presa desde o dia 29 de dezembro. O protesto foi organizado pelas redes sociais.

Para os presentes no ato, a farmacêutica de 31 anos sofre racismo. “Estamos em um processo de mobilização nacional. Estamos aqui para manifestar nossa solidariedade e também para um apelo e denúncia. Consideramos que a prisão de Miriam tem um cárater racista. Existem outras suspeitas, as outras pessoas não estão presas. Há um racismo institucional praticado pela polícia de um modo geral”, afirma Francisca Sena,  assistente social e integrante do Instituto Negra do Ceará e do Fórum Cearense de Mulheres.

A polícia civil nega haver preconceito. “Estamos procurando o culpado, e não algum culpado, independente da cor dele, da condição social e da procedência.” A delegada  Patrícia Bezerra afirmou que ela tem acesso a todos os direitos previstos. “Ela está em uma cela separada dos demais presos, nos exatos termos do que determina a lei brasileira, com todos os seus direitos sendo integralmente respeitados.”

‘Tranquila’
Um grupo de dez pessoas que participavam do ato nesta sexta-feira (9) teve autorização para entrar na delegacia e conversar por 15 minutos com a farmacêutica. “Ela está bem, fisicamente bem. Está mais tranquila. Está lendo uns livros e aguardando uma decisão”, afirma a ouvidora da Defensoria Pública, Ana Virgínia Ferreira. Na terça-feira (6), a Defensoria Pública pediu a revogação da prisão temporária de Miriam. Os defensores afirmam que não existem motivos para mantê-la em custódia e que a pressão internacional influenciou na decisão da Justiça.

O pedido de revogação foi encaminhado para o plantão da Região Norte, no município de Cariré. O juiz de plantão não apreciou o pedido e encaminhou ao Fórum de Jijoca, onde ocorreu o crime. Na quinta-feira (8), o juiz da comarca de Cariré, pediu um parecer da Polícia Civil sobre a prisão da carioca. A polícia tem o prazo de 48 horas para enviar as informações à Justiça.

Prisão
Segundo a polícia, a carioca foi presa por se contradizer várias vezes durante o depoimento. A delegada Patrícia Bezerra afirma que os horários e datas de passeios da turista não conferem com informações das demais testemunhas. Patrícia Bezerra diz ainda que, questionada sobre as contradições, ela não soube se explicar.

Para os defensores públicos, não houve contradições. “Nós temos esses depoimentos e essas acareações que a delegada Patricia Bezerra utilizou para justificar a prisão. Essas contradições, conforme a delegada, se deve a pequenos detalhes, a dados periféricos que em nenhum levam a crer que foi ela a responsável por esse fato”, afirmou a defensora Gina Moura.

Caso
O corpo da italiana Gaia Molinari, de 29 anos, foi encontrado por um casal de turistas na área do Serrote, próximo à Pedra Furada, no dia 25 de dezembro. A jovem estava Jericoacoara acompanhada da farmacêutica carioca. Ambas deveriam ter deixado Jericoacoara na quarta-feira (24), mas Gaia não retornou do passeio na véspera do Natal. Segundo depoimentos,  Miriam e Gaia se conheceram em Fortaleza em hostel, onde a italiana trabalhava em troca de hospedagem.

De acordo com o laudo da Perícia Forense, a turista italiana Gaia Molinari foi morta por estrangulamento. Segundo o laudo cadavérico divulgado pela polícia nesta segunda-feira (5), Gaia sofreu vários golpes com um objeto contundente no corpo e no rosto antes de ser asfixiada.

Segundo o consulado da Itália em Fortaleza, o traslado do corpo da italiana para a Itália está previsto para a terça-feira (13). “Nossa parte já foi feita, já estamos com toda a documentação, inclusive com o passaporte mortuário. Algum atraso poderá ocorrer se as autoridades policiais colocarem algum entrave referente às investigações [do assassinato]’, explica o vice-cônsul Roberto Misici. O enterro será na cidade de Piacenza, terra natal da vítima.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Janete Melo.

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