O fato do fazendeiro ter alegado que disparou e atingiu o adolescente “por acaso” está caindo por terra.
Por Pio Redondo, para o Midiamax
A perícia da Polícia Civil de Dourados já concluiu a sua apuração técnica da morte do adolescente guarani-kaiowa, Denílson Barbosa, de 15 anos, assassinado pelo réu confesso, o fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalves, à delegada que conduz a investigação, Magali Leite Cordeiro.
Denilson foi executado com tiro de carabina 22, no último dia 19, num açude dentro das terras do fazendeiro, quando pescava com dois outros indígenas, um de 17 anos (sic) e outro de apenas 11 anos, num açude dentro da fazenda de Orlandino.
O fato do fazendeiro ter alegado que disparou e atingiu o adolescente “por acaso” está caindo por terra. Orlandino declarou à Policia Civil que disparou um tiro de alerta, de longe, cerca de 50 metros, à noite, para assustar os meninos, tendo atingido o ouvido de Denilson acidentalmente.
A delegada de Dourados responsável pelo inquérito contesta a versão do de Orlandino. “É possível ele de ter atirado da sede em direção ao açude. No entanto, é preciso observar o fato do menor ter sido atingido à noite, a metros de distância, em um disparo certeiro, que poderia ser apontado como de extrema sorte. Mas tudo será investigado”, declarou Magali Cordeiro.
Outro ponto de interrogação do inquérito policial, reforçado pelo trabalho da perícia, é quanto à versão de Orlandino, de que teria agido sozinho.
Os outros dois menoresque pescavam junto com o Denilson falam em três pessoas – Orlandino e mais dois jagunços, um deles falando em idioma guarani, que disse “mata, mata”. Para o delegado regional da Polícia Civil de Dourados, Antônio Carlos Videira, a perícia coloca dúvidas claras sobre as afirmações do fazendeiro.
“O laudo aponta que é preciso esclarecer como ele conseguiu, sozinho, colocar a vítima na carriola, e carregá-la até a camionete”, afirmou o delegado regional, questionando a própria versão do fazendeiro, de que teria prestado socorro à vítima.
O fazendeiro ainda afirmou ter socorrido o garoto em sua caminhonete, mas depois de encontrar um grupo numa estrada vicinal de terra, abandonou o adolescente, ainda com vida, segundo ele, achando que fossem índios que se aproximavam.
“Ele alega que seguia para socorrer a vítima e parou ao se sentir ameaçado após avistar um grupo que pensou ser de indígenas, e resolveu deixar o menor na beira da estrada. Mas o intervalo de tempo nisso tudo é questionável, porque era noite, e para enxergar o grupo que ele alega ter visto, ele teria apenas a luz do farol da caminhonete como referência, o que faz com que proximidade desses indígenas fosse curta demais para que desse tempo dele parar o carro, deixar o menor na estrada, e fugir. Isso também questiona uma ação solitária”, garante o delegado Videira.
—
Justiça impede mineradora de construir estrada em terras de comunidade quilombola