AP – Região do Maracá deve abrigar o primeiro Território Quilombola do Estado

 Agência Amapá de notícias

As comunidades de Conceição do Igarapé do Lago do Maracá, Mari, Joaquina, Fortaleza e Laranjal do Maracá deverão abrigar o primeiro Território Quilombola do Amapá. Esses vilarejos ficam na isolada região do Maracá, na divisa dos municípios de Mazagão e Laranjal do Jari, na região Sul do Estado.

Em 21 de abril do ano passado, foi fundada a Associação Quilombola dos Remanescentes das Comunidades do Igarapé do Lago do Maracá (AQRCILM), que também representa todas as comunidades do entorno. A Secretaria Extraordinária de Políticas para Afrodescendentes (Seafro) acompanha esse processo de organização coletiva desde o início.

Com a entidade formalmente criada, agora a luta é pela criação do primeiro Território Quilombola oficialmente reconhecido do Amapá. Uma vez consolidada, será possível aos moradores desses lugares terem acesso facilitado a recursos do Poder Público, políticas de assentamento diferenciadas e maior articulação para os programas federais. Nilton Conceição Videira, primeiro presidente da associação, vislumbra novos tempos com esse acesso aos benefícios.

“Esperamos que, com a associação formalizada e o território criado, União, Estado e Município comecem a olhar e fazer alguma coisa para melhorar a vida em nossas comunidades”, discursa dona Maria Divina de Jesus, de 81 anos, umas das moradoras mais antigas de Conceição do Igarapé do Lago do Maracá.

Esta semana, durante cinco dias, uma equipe da Seafro percorreu todas as comunidades da região do Maracá, ministrando palestras, quando explicaram sobre o programa Brasil Quilombola, conjunto de ações do Governo Federal para as comunidades remanescentes de quilombos, sobre a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira em todas as escolas brasileiras, públicas e particulares, do Ensino Fundamental até o Ensino Médio e inclui o Dia da Consciência Negra no calendário escolar, além de apresentar aos moradores o Estatuto da Igualdade Racial.

“É uma forma de levar essas legislações e programas ao conhecimento das populações, que têm pouco ou nenhum acesso à informação. O projeto ‘Seafro Presente Com Você’ tem cumprido o seu papel, de tirar a secretaria do gabinete e ir até as comunidades, ouvir os anseios dos moradores, conhecer a realidade e executar ações afirmativas de formas mais acertada possível, promovendo desenvolvimento para os moradores desses locais”, endossa João Ataíde, chefe de Gabinete da Seafro, que coordenou a equipe durante a viagem.

Conheça um pouco sobre as cinco comunidades:

Conceição do Maracá
Conceição do Igarapé do Lago do Maracá, vilarejo situado em um ramal de cerca de 14 quilômetros, na altura do Km 150 do eixo Sul da BR-156 (Macapá-Laranjal do Jari). De carro, é possível ir apenas até a esse ponto da viagem.

Aos 59 anos de idade, seu Anastácio Trindade de Sousa é uma espécie de liderança comunitária do lugar. Ele relata que, hoje, a região precisa começar a sair do isolamento, mas ainda há muito a se fazer para que isso aconteça. “O Poder Público tem pouca presença aqui. Nossa esperança é que nosso lugar se desenvolva, para que nossos filhos não precisem mais sair daqui e tentar dias melhores na cidade”, afirma.

Em Conceição do Igarapé do Lago do Maracá, energia elétrica somente com um pequeno gerador, que funciona das 18h30 às 22h30. O grande sonho é a energia 24 horas chegando para os moradores. “Dá para assistir ao jornal e à novela das nove”, brinca dona Divaneide Trindade, sobre a energia com hora contada.

A renda tem como base os programas sociais do governo, mas a agricultura e a pesca começam a se desenvolver, mesmo que de maneira bastante tímida. Na cultura, o ponto forte é a celebração da festa de Nossa Senhora da Conceição, em dezembro – com a realização de folias, como acontece em outras comunidades de Mazagão.

Mari: desafio é desenvolver a educação
Depois de passar por Conceição, é hora de pegar um pequeno barco a motor e seguir para a pequena comunidade de Mari. O percurso fluvial pelo Rio Maracá dura cerca de uma hora, mas não se trata de uma navegação tranquila: é preciso enfrentar a obstrução dos igarapés pelos juncos, que formam obstáculos naturais que à noite representam grande perigo.

Em Mari vivem cerca de 30 famílias, uma média de 100 pessoas, divididas em pequenas casas às margens do rio. Na economia, o destaque é para o extrativismo da castanha-do-brasil.

Joaquina e Fortaleza: nem a energia chegou
Uma hora e meia de viagem de barco rabeta para chegar até à pequena comunidade de Joaquina, onde vive uma média de 15 famílias – cerca de 70 pessoas. Numa pequena capela, o culto a São Thomé, padroeiro celebrado e festejado na região.

Em Joaquina, o isolamento e falta de infraestrutura são ainda maiores. Nem motor de energia existe. A alimentação é à base da caça e da pesca e os moradores ganham um pouquinho de dinheiro com a ainda tímida produção de farinha de mandioca e coleta de castanhas e produtos naturais.

Do outro lado do Rio Maracá, a comunidade de Fortaleza, onde encontramos o morador Antônio Viana, de 49 anos, conhecido como “Cachimbo”. Numa casa ribeirinha, vivem apenas ele e a mãe, dona Luiza Gonzaga Alvina, de 88 anos. Experiente mateiro, Antônio nos acompanhou por uma pequena trilha. “Aqui, quando criança, achávamos vários objetos antigos, não sabíamos o que era”, conta.

Laranjal do Maracá: uma vila à margem da BR
Nossa última parada foi na comunidade de Laranjal do Maracá, situada às margens do eixo Sul da BR-156, na altura do Km 180. Na localidade vivem cerca de 40 famílias, em casas espalhadas ao longo do entorno da estrada.

A energia elétrica também é o grande gargalo desses moradores, que vivem basicamente da agricultura e do extrativismo. Na religião, a santa cultuada é Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

A educação é oferecida em nível fundamental, em duas escolas, uma estadual e outra do município.

http://www.koinonia.org.br/oq/noticias-detalhes.asp?cod=12249

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