Por causa de ‘dois peixinhos’ …

Foto: Renato Soares

Por Tereza Amaral

O adolescente Denilson Barbosa Guarani-Kaiowá, 15 anos, foi abatido com tiros de uma espingarda rifle Winchester 44, calibre 22, pelo fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalves. Após livrar o flagrante, ele compareceu na delegacia em companhia do advogado. Mesmo tendo confessado a autoria do crime, saiu pela porta da frente.

Ao contrário do fazendeiro, o jovem teve a porta da vida trancada aos gritos de “morre cachorro”, segundo depoimento do seu irmão mais novo e de um cunhado. Os três haviam saído da aldeia Teyi’kue para pescar em um açude da fazenda. Orlandino Gonçalves com dois empregados, possivelmente pistoleiros, os viu. Um deles foi o autor da frase que por si só denota o ódio pelos índios. 

Ainda segundo depoimento das testemunhas escondidas em moitas, o trio colocou o corpo do garoto na carroceria de uma caminhonete e, posteriormente, fez a ‘desova’ em um canavial. Um funcionário de uma fazenda vizinha – que dirigia um caminhão pela vicinal – encontrou às 5 da manhã, no domingo passado.

Até ontem a polícia federal não havia entrado no caso do adolescente executado barbaramente com um tiro de espingarda no rosto. A notícia foi dada aos pais pela criança – irmão – que jamais esquecerá a cena dantesca. O fazendeiro Orlandino Gonçalves, cuja foto não ‘existe’ na internet – pesquisei em jornais, blogs, pelo nome – não executou apenas Denilson, mas parte do seu irmão, da etnia Guarani-Kaiowá, e – caso não seja preso- mata a Justiça.

Isso sem falar que será um incentivo para inúmeros latifundiários que estão de olho em terras indígenas ancorados pela Bancada Ruralista. Mas a delegada Magali Cordeiro, responsável pelo inquérito policial, acredita que os elementos já são suficientes para concluir o inquérito, o que deve levar à prisão do fazendeiro.

Trabalho Escravo

Os indígenas, inclusive o pai e o próprio Denilsom, trabalharam na fazendo do fazendeiro Orlandino Gonçalves. E segundo relato de um ancião ao jornalista Ruy Sposati ( Cimi) muitos Guarani -Kaiowá também já trabalharam a troco de carne, arroz e sal . E fica uma indagação: isso não caracteriza trabalho escravo?

A fazenda se encontra em área indígena.“Aqui antigamente era o tekoha (território tradicional) Guarani e Kaiowá Pindoroky. A gente acha que pode ter sido gente do SPI (Serviço de Proteção ao Índio, antigo órgão oficial indigenista do Estado brasileiro) que vendeu para fazendeiros. Então foi roubado da gente e agora que ele matou, nós tomamos de volta o que já era nosso”, afirma uma liderança indígena ao jornalista.

O que vai acontecer vamos aguardar… Mas a vida do garoto considerado bom aluno acabou. “Um rapaz sério”, disse um de seus professores. “Ele matou nosso aluno, por causa de dois peixinhos. Não conseguimos entender porque Orlandino ainda está solto”, questiona em entrevista concedida a Ruy Sposati.

Fonte: Cimi

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