Elaíze Farias
Há três meses, a Comissão Nacional da Verdade criou uma comissão específica para investigar violações contra os índios do povo suruí, cuja terra está localizada no Pará, durante a ditadura militar. A psicanalista Maria Rita Kehl, que integra a CNV, já iniciou os diálogos com os jovens que vão ajudá-la nessa investigação, colhendo depoimentos dos indígenas suruí mais velhos.
No Amazonas, a expectativa é que uma comissão nesses moldes também seja desenvolvida junto aos índios waimiri-atroari, povo que, segundo relatos do indigenista Egydio Schwade, do antropólogo Stephen Baines, da jornalista Verenilde Pereira, e de tantos outros que trabalharam com este povo, também foram vítimas da ditadura. Há uma estimativa que duas mil pessoas da etnia tenham morrido durante o processo de ocupação de suas terras para construção da rodovia 174 e construção de empreendimentos para exploração e escoamento de minério dentro de suas terras.
Não faço parte do comitê no Amazonas da CNV, mas tenho acompanhado os debates, as deliberações dos seus integrantes, bem como as notícias referentes a estes debates. Uma dessas notícias era (ou é, depende ainda de decisões a serem tomadas) que Maria Rita Kehl viria a Manaus neste mês de fevereiro. O roteiro incluía reuniões em Manaus, em Presidente Figueiredo e, claro, em uma das aldeias do povo waimiri-atroari. A data prevista da visita estava marcada para os próximos dias 22 e 23.
Soube na semana passada que esse cronograma não está confirmado. O plano esbarra na dificuldade de organizar até o dia 22 os representantes das 30 aldeias waimiri-atroari, segundo explicações do coordenador do Projeto Waimiri-Atroari (PWA), Porfírio Carvalho, dado à CNV.
Sendo assim, há agora um impasse se essa reunião e a visita de Maria Rita deste mês vão ou não acontecer. A outra alternativa é aguardar final de março, que é quando poderá ocorrer uma grande reunião de todas as aldeias waimiri-atroari.
Dois parênteses. Para quem não sabe, o PWA é quem coordena as ações junto aos waimiri-atroari – e não a Fundação Nacional do Índio (Funai) – desde os anos 80. O PWA é um programa da Eletronorte criado para compensar os imensos impactos sociais e ambientais causados na terra dos waimiri-atroari pela Hidrelétrica de Balbina.
Desde então, qualquer contato com os waimiri-atroari é feito por meio do PWA. Eu mesma não sei como é essa relação. Nunca entendi. Das vezes que tentei (sem sucesso) ir na aldeia dos waimiri-atroari os contatos sempre foram PWA e não Funai. O acordo de criação PWA foi firmado para durar 25 anos, prazo que se encerra, aliás, neste ano de 2013. A Eletronorte ainda não informou se vai renovar.
Esperemos que as notícias sobre os crimes da ditadura junto aos waimiri-atroari não fiquem apenas nos relatos descritos nos texto de Egydio Schwade e outros indigenistas que conheceram aquela realidade.
Corre uma versão que os waimiri-atroari não estão muito empolgados em falar sobre este período. Que, segundo consta, eles não estão animados para desenterrar esse assunto. Pode ser. E pode não ser. Para tirar qualquer dúvida, o ideal seria perguntar dos próprios. Para que tudo se esclareça, que não permaneça oculto ou abafado. Se eles não querem falar, é melhor saber diretamente deles. E não apenas de uma aldeia ou de um grupo. Mas de todos.
Enviei um email para o Porfírio Carvalho para que ele responda sobre a dificuldade de reunir representantes das aldeias para o dia 22 e a reunião do final de março. Assim que ele responder, acrescentarei neste texto.
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http://acritica.uol.com.br/blogs/blog_da_elaize_farias/Visita-waimiri-atroari-incerta_7_863983595.html