Os índios Satere-Mawé guardam, com carinho, uma borduna feita de pau-ferro, denominada Porantim. Ela tem a forma de um remo, onde estão desenhadas figuras, que contam as narrativas e os mitos de origem. É, portanto, uma espécie de ‘livro’. “É a nossa Bíblia. No Porantim está escrito como se formou o mundo, o guaraná e a mandioca”- explica o tuxaua Emilio.
Os velhos da aldeia são capazes de decifrar os desenhos que contam, entre outras, uma história ocorrida em tempos remotos. Eram dois irmãos. O mais velho, Anian’hup wató (o Mal), armado com o Porantim, vivia perseguindo o caçula, Anumar’hi (o Bem) para matá-lo. Depois de muitas peripécias, o Bem consegue tomar a borduna do seu irmãozinho malvado, rachando a cabeça dele com uma cacetada. Por isso, denominamos com esse nome – Porantim – um jornal mensal alternativo, criado em Manaus para divulgar notícias sobre o mundo indígena.
O lançamento oficial foi no 1º de maio de 1978, na livraria do nosso poeta Dori Carvalho – A Maíra – que na época era um ponto de encontro dos rebeldes da cidade. O jornal tinha três folhas mimeografadas, frente e verso, com um desenho do Porantim feito pelo músico Paulinho Kokai, a partir de foto do Nunes Pereira. Apresentava um requinte adicional: uma espécie de Caderno B, na realidade uma folha de tamanho ofício, dobrada ao meio, contendo artigo sobre educação bilíngüe, escrito por uma lingüista peruana (aliás, muito bonita), que era professora da UFAM. (mais…)
Ler Mais