Seis mil hectares de mangues servem agora para a criação de camarão em cativeiro. A informação é do ambientalista Jeovah Meirelles, primeiro convidado do O Povo Quer Saber.
Jornal O Povo
Uma área de mais de seis mil hectares de mangue no Ceará deixou de recolher o dióxido de carbono por conta da utilização para a carcinicultura (criação de camarão). A informação foi repassada ontem pelo ambientalista Jeovah Meirelles, professor do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e o primeiro convidado do programa O Povo Quer Saber 2012, transmitido pela TV O POVO e pelo portal O POVO Online.
Participaram do debate o apresentador Érick Guimarães, diretor-adjunto da Redação do O POVO; Juliana Matos Brito, editora do Núcleo de Audiência do O POVO; Ranne Almeida, repórter do Núcleo de Conjuntura; e Demitri Túlio, editor do Núcleo de Reportagens Especiais, também do O POVO.
O tema do programa, Sustentabilidade Ambiental: o que está sendo feito de fato no País para diminuir o aquecimento global?, ajudou a realizar um diagnóstico das ações prejudiciais no Estado. A criação de camarão em cativeiro, segundo o ambientalista, provoca o desmatamento, aterramento e poluição da área e dos bosques de manguezais.
De acordo com Meirelles, o prejuízo causado pela carcinicultura é de R$ 90 mil por hectare, tendo como base um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Os custos são provocados pelas zonas de erosão do desmatamento dos manguezais, diminuição da pesca e poluição.
“Além disso, a criação de camarão dá uma quantidade de empregos mínima por hectare. Nos períodos de alta produção, o número de trabalhadores chega a 0,5 por hectare. O que em nada explica os prejuízos causados”, alerta Meirelles. Ele acrescenta que hoje a prática está em decadência.
Ele destaca que o número de empregos é ínfimo se comparado aos impactos gerados às populações que vivem no mangue. “Em torno de dez famílias sobrevivem de um hectare do mangue. São populações de marisqueiros, pescadores, índios, que utilizam o espaço como sustento”.
Um exemplo positivo de participação da comunidade pelo desenvolvimento sustentável foi citado pelo ambientalista. Uma espécie de atlas está sendo elaborado no município de Icapuí, a 202 quilômetros da Capital, no Litoral Leste do Ceará. A construção do material inclui a participação popular na definição de traços da geografia, como limites e atividades econômicas. Os próprios alunos das escolas públicas ajudam na correção do material.
Rio +20
O ambientalista afirmou ainda que uma grande chance foi perdida na Rio+20, realizada em junho. “Tivemos a possibilidade de discutir questões globais, mas quando elas afetam determinados territórios que têm economia vinculadas à produção de commodities, a questão complica. A Rio+20 se tratou de uma conferência midiática”, apontou.
Apesar disso, o ambientalista ressaltou vantagens que a reunião preparatória ocorrida no Ceará, a Declaração da Caatinga, trouxe para o maior ecossistema do Ceará. Reuniu vários pesquisadores de todo o Nordeste para definir quais as pesquisas que tratam da vegetação que cobre 90% do território do Estado.
ENTENDA A NOTÍCIA
Sustentabilidade ambiental foi o tema do primeiro programa O POVO Quer Saber, transmitido ao vivo pela TV O POVO e pelo O POVO Online. A transmissão é às segundas, num total de seis programas, das 10 às 12 horas.
Saiba mais
Segundo o professor Jeovah Meireles, o processo de recuperação do mangue tem de se iniciar de uma dimensão regional. Segundo ele, é preciso também implementar políticas públicas concretas, através da destinação de valores do orçamento nacional.
Uma nova forma de licenciamento ambiental está sendo formulada pela Rede Brasileira de Justiça Ambiental, que congrega pesquisadores de várias instituições. Ela deve incluir a avaliação de equidade ambiental.