Revolucionando corações e textos

Eliane Potiguara

Dedico esse texto ao meu querido amigo Antonio Brand, uma estrela no céu!

Segundo Jorge Amado, grande escritor baiano, os maiores escritores são aqueles que conseguem falar de si mesmo em poesia ou em texto, reportando-se ora como personagem ou não. Fernando Pessoa, por exemplo – poeta e escritor português -, passou anos na África. Sua poesia bucólica (que lhe deu o pseudônimo Alberto Caieiro) vem dessa experiência apesar de sua formação  européia. Fernando Pessoa se “desaburguesa” no colo dos povos africanos, povos originários, povos indígenas. Antonio Brand foi um irmão de Fernando Pessoa na prática! Esse homem colocou as mãos nos barros e nas lamas. Eu o conheci na década de 80, quando era diretor-executivo do CIMI e ele se foi com dignidade para as estrelas por ser um homem bom e justo!

Há muitos escritores, militantes  ou intelectuais que transformam seus textos e verbos a partir da realidade de sua própria vida.  O caminhar do escritor, digo sempre, é solitário. Sua escrita é consigo mesmo, seu diálogo é consigo mesmo movimentando milhões de personagens que podem ser ele mesmo ou criados por ele. Mas o escritor verdadeiro, o que fala de si, é o que fala do social , do político e das contradições sociais, raciais em versos ou prosa. Em cânticos ou romances. O escritor é um eterno pensador que tem olhos gigantes! O militante é uma garganta da oralidade.

Diz Fernando Pessoa: “Da minha aldeia vejo quanto da terra  se pode ver o universo”. Não é assim que nós , povos indígenas sentimos neste mundo globalizado?  E eu digo: “Da minha lagoa e  na minha canoa percebo as diferenças e contradições de meu país. Meu país precisa de conscientização política, meu país precisa de ética, e a ética começa dentro de nossas casas, dentro de nossos corações. Não adiantam palcos e microfones quando as transformações não forem feitas dentro de nossos espíritos , almas e  essências.”

Mudar o formato dos textos e do verbo faz bem ao coração e à literatura! Povos indígenas, escrevam mais sobre si mesmo. Um diamante existe dentro de cada um! Salve os guerreiros como Antonio Brand e Fernando Pessoa! Salve os indígenas do Brasil, atuais militantes, futuros escritores!

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