Em resumo

“A imagem do Brasil em nada ganharia com a nomeação de quem tem fama de maior desmatador da Amazônia”, escreve Jânio de Freitas, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 10-07-2011. Eis o artigo.

A recusa ao convite para assumir o Ministério dos Transportes deve ser vista como uma gentileza de Blairo Maggi para com o país e, em especial, para conosco. A imagem do Brasil, que a respeito de decência e eficiência administrativas já tem poucos quilates, nada receberia de bom com a incorporação ao governo do político que carrega a fama mundial de maior desmatador da Amazônia. Mas com isso completa-se uma instrutiva exibição de quanto apodrece, à espera das reformas imprevistas, o sistema que nos governa.

Blairo Maggi teve a sensatez capitalista, como confessou, de recusar um ministério importante para “não prejudicar os [seus] negócios”. Deixou abertas as hipóteses para os diferentes tipos e causas de danos, à escolha dos habituados a ler sobre negócios ou sobre demissões governamentais. Tanto faz, a recusa tem eloquência por si só.

Mesmo sem hipótese alguma, o processo praticado para a escolha só é possível em um sistema desprovido de todos os princípios: conduziu-o o ex-ministro afastado por falta de condições morais para continuar no cargo. E afastado apenas 48 horas depois de receber da presidente o crédito de expectativa para investigar, ele mesmo, as denúncias que atingiram seu grupo de atividade ministerial.

E quem é esse cidadão que passa de duradouro ministro da riquíssima área de Transportes a afastado a bem do serviço público, e daí a indicador do novo ministro? Ex-presidente da Suframa, aquela outra usina de escândalos amazônicos, o então recém-eleito Alfredo Nascimento foi surpreendido por um convite de Lula para trocar o Senado pelo ministério poderoso, em razão de um atributo pessoal único. Sua nomeação permitiria a Lula presentear um amigo, por acaso suplente de Nascimento, com uma cadeira de senador. O petista João Pedro até que não se saiu mal, sem que isso sequer atenue o ato e o estado institucional degradante que reduzem o ministério fundamental no continente Brasil, e tão enriquecido ano a ano, a moeda de arranjo partidário-pessoal.

No desarranjo que daí decorreu e enfim eclode, uma estatal obscura desponta como instrumento, só ela, de mais de 20 licitações e contratos já na lista das irregularidades. AValec teve, porém, os seus dias de notoriedade. Era pequena e esquecida subsidiária da ainda estatal Vale, quando foi reanimada para servir à maior fraude de licitação de obra pública – a da ferrovia Norte-Sul, de US$ 2,4 bilhões para começar.

Desmascarada na Folha, a Valec foi declarada em extinção. Vê-se que sobreviveu para não trair sua utilidade patriótica à administração pública, à política e às empreiteiras.

Assim é o panorama oferecido por um ministério, ainda que só de relance. Não são todos iguais. Mas o dos Transportes nunca precisou adotar o bordão do antes só.

Neste estado de degeneração institucional, não é impróprio que partidos se achem donos de ministérios, grupos de políticos tenham status de donos de partidos, e a Presidência da República seja por eles impedida de escolher os ministros e demais componentes do seu governo. Em lugar da Constituição, regem a chantagem e a extorsão.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=45211

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