Só vai sobrar a lua cheia, por Maria Rita Kehl

Amigo muito querido,

Repito aqui o que escrevi na mensagem particular: você pode ter muitos medos, mas não é covarde. Costumo dizer a meus pacientes que coragem não é exatamente igual a destemor: coragem é a força que precisamos acionar justo diante do que tememos. Os medos de que você se fez íntimo desde tão pequeno, dos quais não faz segredo e até fatura parte de seu charme, os seus medos queridos, se assim posso dizer, também te exigem coragem. Se não fosse assim, não poderia conviver com eles. Porém – e como dizia Plínio Marcos, sempre existe um porém – eu que te observo desde 1987 (antes já te conhecia mas não te observava) afirmo aqui, outra vez, o que já devo ter dito de viva voz com minha falta de diplomacia crônica: o pior remédio para o medo é eleger a segurança como medida da vida. Quanto mais você se protege, mais alimenta os fantasmas. Quanto mais fecha a porta de casa, mais o mundo se afigura ameaçador.  A estratégia contrafóbica de quem conviveu com a fobia, no meu caso, é esta: tá com medo? Vai lá. Confere o tamanho da encrenca, veste o lençol do fantasma, espia com cuidado, na beirinha do abismo, a paisagem lá em baixo. Quase sempre dá certo. Não sempre.

Quando fiz sete anos, minha família se mudou para um sobrado bem maior do que a casinha térrea a que já me acostumara. No início, sentia pavor de subir sozinha, à noite, até o segundo andar. Inventei de brincar com o suposto perigo: subia as escadas no escuro e testava em quantos cômodos era capaz de entrar sem acender a luz. Ia suspensa, palpitante, com a respiração presa até o momento em que um tremor vindo de dentro do corpo me obrigava a acender a luz de onde estivesse e correr, com todas as pernas, de volta para a sala onde estavam meus pais, a quem nunca contei qual era o jogo. Brinco disso até hoje, com outras escuridões. Às vezes vale o que encontro, às vezes não – mas ainda assim, vale o jogo. E o frisson. Já te mostrei este velho poema, “Caminhar no escuro”, lembra dele? (mais…)

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Zezé Perrella (PDT) tem patrimônio invejável que o TRE desconhece

Primeiro suplente do senador Itamar Franco é rei das pastagens e guarda uma riqueza que os eleitores não sabem

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Vista da Fazenda Guará, em Morada Nova de Minas, propriedade de Perrella avaliada em R$ 60 milhões

 

“É uma fazenda muito grande. Tem terra e boi, daqueles…nelore, pra todo lado. Para entrar na granja de porcos tem que usar máscara e roupa especial. A casa fica no fim de uma rua de pedra. E sabe, ele é bom para os funcionários. A única coisa ruim são as estradas. Ele mesmo só vem de avião”. Este foi o relato de uma senhora que já trabalhou na fazenda do “rei do campo” e dá uma pequena dimensão de uma das propriedades rurais mais completas do Estado. Todo morador de Morada Nova de Minas, a 300 Km de Belo Horizonte, sabe na ponta da língua de quem é a Fazenda Guará: Zezé Perrella (PDT). O cartola dos gramados de futebol também é rei das pastagens. Mas os eleitores não sabem que o ex-deputado e primeiro suplente de senador guarda tamanha riqueza. (mais…)

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Morador de rua da capital vive sem documento, cobertor e dignidade

Fiscais da Regional Centro-Sul são acusados de tomar, à força, objetos pessoais de mendigos de Belo Horizonte
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Sem-teto acusam abordagem de servidores da Regional Centro-Sul de truculenta

Moradores de rua da área da Administração Regional Centro-Sul estão sendo privados de cobertores e até de documentos de identificação. A denúncia é de movimentos e entidades como a Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, a Toca de Assis e o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis (CNDDH).

Todos afirmam que fiscais da Gerência Regional de Ações Sociais no Hipercentro cometem abusos durante a abordagem dos moradores. Os funcionários da prefeitura estariam tirando à força objetos pessoais dessa população, prática tida como incabível pelo parecer 9.594 de 2010 da Procuradoria Geral do Município. (mais…)

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Entre cantos e chibatas – conversa com Lilia Schwarcz

A convite do blog do ims, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz analisou uma série de imagens que retratam o negro na sociedade brasileira e pertencem ao acervo do Instituto Moreira Salles. São fotos sobretudo do século 19, reveladoras de contradições de um período em que o Brasil teve fotógrafos de objetivos distintos, que vão da criação de uma imagem apaziguadora da escravidão ao levantamento amplo das diferentes funções dos escravos até a Abolição.

Bloco 1: Deusas e mucamas

Nesta primeira parte, Lilia Schwarcz observa as semelhanças e disparidades nas imagens capturadas ao ar livre ou em ateliê. A antropóloga se apoia em definição de Susan Sontag, segundo a qual a “fotografia serve à mentira”, para definir o que é jogo de cena. E é justamente esse falseamento que ela identifica nos ateliês dos fotógrafos: “Tudo é uma mentira, tudo é uma composição”. Chamam atenção as negras expostas como mulheres sensuais e aquelas que se ornam com fidelidade às origens. (mais…)

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Até produtos orgânicos já contêm transgênicos

Organismos geneticamente modificados (OGMs ou transgênicos) se tornaram ingredientes tão comuns em produtos industrializados que é impossível deixar de encontrá-los nas prateleiras dos supermercados, mesmo na maior rede de produtos orgânicos dos Estados Unidos – a Whole Foods Market. Alimentos orgânicos deveriam ser, por definição, livres de transgênicos. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo, 30-05-2011. (mais…)

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Belo Monte, o calcanhar de Aquiles do governo. Entrevista especial com Telma Monteiro

“Os processos de Belo Monte e do rio Madeira são reflexos da apatia do brasileiro”. Esta é a conclusão a que a ativista ambiental Telma Monteiro chegou depois de lutar, por anos, contra a construção das hidrelétricas na região amazônica. Neste momento, Telma está na Holanda para apresentar às autoridades do governo holandês e representantes de organizações privadas um relatório que elaborou a respeito do interesse de empresas holandesas nas hidrelétricas e hidrovias planejadas nos rio Tapajós e Teles Pires. “O governo brasileiro pretende lançar mão dos recursos naturais – exportando-os como commodities – para se transformar na quinta maior economia do mundo. O modal hidroviário, com a experiência holandesa, é considerado o principal meio para se chegar lá”, escreveu ela na entrevista que concedeu  por e-mail à IHU On-Line.

Telma Monteiro é especialista em análise de processos de licenciamento ambiental e coordenadora de Energia e Infraestrutura Amazônia da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. A entrevista foi feita em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores -CEPAT. Confira a entrevista. (mais…)

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A África tem sede de Brasil

Escrevo este artigo no dia dedicado à celebração do continente africano. E faço isso com muita alegria, por constatar, pela leitura do discurso pronunciado pelo ministro Antonio Patriota na cerimônia com que o Itamaraty marcou a efeméride, que os conceitos e princípios que se desenvolveram durante o governo do presidente Lula continuam a presidir a política africana de Dilma Rousseff. Patriota deu, ele próprio, os dados que ilustram o vertiginoso crescimento das nossas relações com o continente africano durante os últimos oito anos.

A África sempre esteve no imaginário da política externa brasileira, embora nem sempre de forma coerente ou consequente. Durante a ditadura, o Brasil foi lento em dar apoio aos movimentos de libertação das antigas colônias portuguesas. Graças à visão de dois homens, Ovídio Melo e Italo Zappa, nos redimimos em parte desse pecado ao agirmos de forma pioneira e corajosa reconhecendo o governo do MPLA em Angola. (mais…)

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Professores indígenas recebem diploma em Minas

Primeira turma tem 130 educadores das etnias Kaxixó, Krenak, Maxakali, Pankararu, Pataxó, Xacriabá e Xucuru-Kariri

A primeira turma de educadores de origem indígena, parte deles moradores das tribos remanescentes de Minas Gerais, recebeu, na noite da sexta-feira (27), seus diplomas de professores indígenas. A solenidade de colação de grau aconteceu na reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no campus da Pampulha.

Fazem parte desta primeira turma 130 educadores das etnias Kaxixó, Krenak, Maxakali, Pankararu, Pataxó, Xacriabá e Xucuru-Kariri. O curso é uma iniciativa da UFMG, que tem parceria da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério da Educação (MEC). (mais…)

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Trabalho escravo está migrando para locais onde a prática não era tão comum para fugir de fiscalização

A geografia da incidência do trabalho escravo no Brasil está mudando para escapar da fiscalização de órgãos responsáveis, afirma o procurador-geral do Trabalho, Otávio Lopes. O número de casos de trabalho escravo está aumentando em locais onde a prática não era tão comum, como os estados de Mato Grosso, do Maranhão e do Tocantins, e diminuindo em estados onde o problema era conhecido e reincidente, como o Pará.

“O Pará ficou muito tempo sob os holofotes, mas lá já existe uma boa estrutura de fiscalização. Agora os criminosos estão descendo para estados como Mato Grosso e Tocantins para não serem pegos”, diz Lopes.

A coordenadora nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho (MPT), Débora Farias, lembra que, em 2009, o estado onde foram encontrados mais trabalhadores em regime de escravidão foi o Rio de Janeiro, seguido por Pernambuco. “O trabalho escravo não é uma maldade, ele tem um aspecto econômico. Embora tenha grande incidência nas fronteiras agrícolas, ele pode estar em qualquer lugar”, constata a promotora. (mais…)

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Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso desconsidera 14 terras indígenas

No texto da norma, dez terras indígenas em processo de demarcação não foram inseridas na categoria que as reconhece como áreas protegidas

A lei que institui o Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso (ZEE) suprime, nos anexos I e II, terras indígenas que estão em estudo e até mesmo as delimitadas e as já declaradas por meio de portaria do Ministério da Justiça. A declaração é da procuradora da República Marcia Brandão Zollinger, durante seminário realizado nesta sexta-feira, 27 de maio, para discutir os impactos da aplicação da nova lei, acrescentando que o Ministério Público Federal no Mato Grosso (MPF/MT) vai tomar as medidas necessárias para frear a norma.

A procuradora da República afirma que, na lei aprovada, os legisladores desconsideraram as terras indígenas em processo de demarcação e as restrições de uso dos recursos naturais por não-índios. A lei, da forma como está, também induz a sociedade ao entendimento, errôneo, de que seria possível licenciar atividades agropecuárias nas referidas áreas, levando a uma situação de impasse nos órgão públicos e o agravamento de conflitos fundiários. (mais…)

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