Editorial – O Observatório de Favelas realizará, durante o ano de 2011, um ciclo de seminários sobre variados temas relacionados ao “direito à cidade”. São eles: ‘O presente das favelas e o futuro com as UPPs’; ‘Cluster Cultural e novas territorialidades urbanas’; ‘Os jogos olímpicos e o Legado Social para o conjunto da Cidade’. Esta expressão parte do princípio de que a pólis é a materialização das possibilidades de realização da cidadania plena do ser social.
Afirmar esse direito, em especial, nas grandes cidades brasileiras, significa, dentre outras tarefas teóricas, colocar em questão o paradigma da “ordem X caos” que sustenta as diversas formas de relações sociais no contemporâneo. Os termos ordem e caos funcionam de forma integrada e inseparável, são dois entes com uma mesma substância. Essa expressão funcional nos aparece como um dos pontos centrais para se entender a dinâmica do território urbano, em particular, e as formas de instituição das relações sociais e políticas.
Afirma-se então, uma visão criminalizante na relação entre o trabalho formal/informal; visão que se repete no tratamento do espaço urbano (espaço formal/informal); na estrutura burocrática da escola (escola organizada X desestruturada) etc. Em todos os níveis da vida social, o paradigma hegemônico interfere e define, em grande medida, os comportamentos, as formas de funcionamento e as sanções.
Cabe salientar que a regulação da ordem é fundamental para vida social, assim como a definição de a quem pertence o poder de se tomar decisão em uma questão para além da vida individual. Como superar esse paradigma de uma ordem centrado no controle, na disciplinarização, na subordinação, na conformação ao estabelecido e, mesmo assim, conseguir atingir melhores condições de relacionamento social, de afirmação de um sujeito pleno?
Para isso, precisamos ressignificar o conceito de ordem, rompendo com sua relação simbiótica com a idéia de caos, pois colocando em questão os parâmetros de ordem vigentes é que poderemos ir além do conceito atual. Do mesmo modo como foi feito no campo do poder, em que se conseguiu romper sua ligação automática com a noção de dominação.
O tema Ordem X Caos adquire maior importância diante das novas centralidades assumidas pelas periferias nos tempos em que vivemos. A ruptura com a visão tradicional dos “Centros” diversos como modelos para as diversas periferias perde cada vez mais sentido em um mundo no qual o poder criativo, político e mesmo econômico migra cada vez mais para os “emergentes”, no campo internacional. Mundo no qual as potencialidades criativas e novas expressões culturais se revelam cada vez mais nas favelas e territórios afins.
Debater esse leque de questões é central para que novas construções conceituais e práticas se realizem. Os temas são vários, os períodos também. Vamos falar mais dos temas específicos nos números seguintes desse boletim.
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