Xingu: os inúmeros caminhos de um rio

Cecília Campello do Amaral Mello*

Para que serve um rio? Para pescar, para banhar, para navegar, para amamentar. Sim, as mulheres indígenas e ribeirinhas costumam levar seus bebês para banhar-se no rio e os alimentam ali mesmo, dentro d’água, onde as crianças flutuam tranquilas abraçadas ao seio materno. Um rio tem muitos “aproveitamentos”, muito mais do que geralmente se imagina. É o que ensinam as crianças e populações indígenas que vivem à beira do rio Xingu. Visitei em novembro de 2009 (1) a comunidade ribeirinha Vila da Ressaca e a Terra Indígena Arara, ambas na Volta Grande do Xingu, região que seria a mais atingida no caso da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Se construída, a barragem desviaria o curso do rio Xingu, diminuindo drasticamente sua vazão, o que inviabilizaria as inúmeras relações que os povos que aí vivem mantêm com o rio. Hoje, os usos e sentidos que o Xingu possui para os grupos sociais que dele e com ele vivem são plenamente compatíveis entre si. Uma vez construída a barragem, o único uso possível do rio seria como força motriz para geração de energia — para quem? (mais…)

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Tarso Genro decide reabrir as escolas itinerantes do MST

O governo Tarso Genro vai usar um argumento jurídico para autorizar a reabertura das polêmicas Escolas Itinerantes, que eram mantidas até 2009 em acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul. As nove escolas que existiam foram fechadas em fevereiro daquele ano, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público (MP) e a Secretaria da Educação (SEC).

A reportagem é de Umberto Trezzi e publicada pelo jornal Zero Hora, 26-04-2011.

Ao saber que as escolas serão reabertas, o autor do pedido de fechamento em 2009, procurador Gilberto Thums, considerou a decisão “um escárnio”. Entre as razões alegadas em 2009 para o fechamento das escolas do MST estavam o currículo próprio – pautado pela ótica de defesa de invasão de terras e outras ilegalidades – e também porque a prestação de contas de algumas delas não era fiscalizada e estava irregular. (mais…)

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E se o Império perder os dentes?

Uma ampla rede de alianças com elites nacionais foi, por décadas, peça-chave do poder norte-americano. Este trunfo está se dissolvendo

Por Alfred W. McCoy e *Brett ReillyTomDispatc. Tradução Coletivo Vila Vudu

Num dos mais bem-vindos movimentos das forças da história, a justaposição de dois extraordinários eventos deixou a nu a arquitetura do poder global dos EUA, e todos afinal podem vê-la. Em novembro do ano passado, WikiLeaks fez chover sobre o mundo quantidades diluvianas de telegramas diplomáticos, recheados dos mais abusivos comentários formulados por diplomatas dos EUA sobre governantes de todo o planeta, da Argentina ao Zimbabwe, e estampados nas primeiras páginas dos jornais. Em seguida, poucas semanas depois, o Oriente Médio explodiu em manifestações pró-democracia e contra ditadores, muitos dos quais aliados íntimos dos EUA, alianças sobre as quais os telegramas publicados por WikiLeaks não deixam dúvidas.

De repente, viu-se o esqueleto da ordem mundial construída pelos EUA e que depende significativamente de líderes nacionais que são “elites subordinadas” fiéis a Washington, mas que, de fato, não passam de bando sortido de autocratas, aristocratas e militares ditadores. Quando se viram os aliados, viu-se também a lógica mais ampla que preside todas as decisões de política exterior dos EUA ao longo de meio século. (mais…)

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