O Greenpeace está realizando na manhã desta segunda-feira, 25 de Abril, um manifesto pacífico na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. O protesto questiona o financiamento do Banco à construção da usina nuclear de Angra III.
No último dia 11 de Abril o Greenpeace já havia submetido ao Banco uma carta solicitando a revisão do financiamento a usina, até então sem resposta. Cerca de 58,6% da construção de Angra III deverá contar com financiamento de capital nacional – o que soma cerca de R$ 6 bilhões e 100 milhões para a obra.
Os 41,4% restantes – destinados ao pagamento de serviços de engenharia e equipamentos – resultariam de créditos estrangeiros disponibilizados por uma associação de bancos europeus, liderados pelo francês Société Generále. A garantia desse empréstimo, que seria dada por uma agência alemã de crédito à exportação (Hermes) num valor total equivalente a cerca de R$ 3 bilhões, está sendo reavaliada.
O acidente no complexo nuclear de Fukushima e o caos atômico no Japão reacenderam o debate sobre o uso da energia nuclear em todo o mundo. A catástrofe japonesa foi classificada com nível de severidade 7 e, junto de Chernobyl, é uma das maiores tragédias envolvendo o uso de energia nuclear.
A repercussão disto na Alemanha foi a suspensão imediata da atividade de sete usinas nucleares, todas construídas antes da década de 1980, por determinação da Chanceler Ângela Merkel. Além de desacelerar seus próprios planos nucleares, o governo alemão também reavaliar a garantia que seria dada à construção de Angra 3.
Em nota divulgada no dia 23 de março de 2011, o Ministério Alemão da Economia comunicou que o governo brasileiro será consultado a respeito dos padrões a serem utilizados na futura usina e que a questão de segurança será condicionante de sua participação no empreendimento.
Neste momento em que os protocolos de segurança estão sendo discutidos e a garantia alemã está condicionada à comprovação por parte do governo brasileiro que Angra 3 é segura, é fundamental que o BNDES suspenda o repasse dos R$ 6,1 bilhões previstos para a construção da obra até que se possa dimensionar os impactos das novas medidas de segurança sobre os custos da usina, que poderão tornar o empreendimento economicamente inviável.
O protesto está sendo realizado às vésperas do 25° Aniversário de Chernobyl, ocorrido em 26 de Abril de 1986 na Ucrânia – então parte da União Soviética, que acarretou na morte instantânea de 31 pessoas, realocação de 350 mil pessoas de áreas severamente contaminadas pelo acidente e milhares de vítimas mortas pelos efeitos da radiação.
Acreditamos que a crescente demanda energética brasileira pode ser atendida com folga por opções renováveis de baixo impacto ambiental, rápida implantação e custos inferiores a usinas nucleares, como as fontes eólica e a biomassa. Enquanto estas opções energéticas são sustentáveis e continuarão disponíveis às gerações futuras, o uso da energia nuclear se esgotará em apenas algumas décadas e ainda perpetuará riscos com um legado de lixo que se manterá radiativo por muitos séculos.
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Iran Magno — Greenpeace Brazil