Fácil de matar (2): Uma vítima a cada dois dias só em Minas

Pelo menos 48 mulheres foram assassinadas no estado neste ano, aponta levantamento

Alessandra Mello

Minas Gerais não tem estatísticas oficiais sobre assassinatos de mulheres , mas somente este ano pelo menos 49 já foram mortas em diversas regiões do estado. Isso representa uma morte a cada 2,1 dias, segundo aponta levantamento extra-oficial feito pela reportagem por meio de dados repassados pela Polícia Militar e informações divulgadas pelo site www.machismomata.wordpress.com, que coleciona casos de violência contra mulheres publicados em portais de notícia de todo o Brasil. O único dado disponibilizado pela Secretaria de Estado de Defesa Social é sobre os assassinatos na capital mineira. Segundo a secretaria, ano passado foram 71 casos. Em 2009, 89 mortes . Em março, mês em que é comemorado o Dia das Mulheres, foram 13 assassinatos em 2011. Neste mês já são nove casos. Em todos eles as mortes foram com requintes de violência e crueldade. As mulheres, de idades variadas, foram mortas a tiros, estranguladas com arame, apedrejadas, esfaqueadas ou atingidas com marreta e enxada.

Somente este fim de semana foram três casos. Em um deles, uma mulher de 52 anos teve a cabeça esmagada por um bloco de cimento. O crime ocorreu dentro da residência dela, em Varginha, no Sul de Minas. O principal suspeito, segundo a Polícia Militar, é o marido da vítima. No outro crime, três jovens foram baleadas em Belo Horizonte por um pretendente rejeitado por uma delas. Duas não resistiram aos ferimentos e morreram.

Esse é um quadro que se repete no levantamento feito pela reportagem. Em 67% dos casos, os principais suspeitos de autoria dos crimes são ou foram maridos, namorados, companheiros ou pretendentes das mulheres assassinadas. Seis se mataram em seguida ao crime. Em outros casos, os assassinatos foram cometidos por pessoas próximas à família. Quase sempre por motivo passional.

É o caso da jovem Meiridiane Silva Ribeiro, de apenas 19 anos. Ela foi espancada e assassinada com um tiro na cabeça, em Betim, em fevereiro. O principal suspeito é o ex-cunhado da vítima, Eduardo Oliveira de Jesus, de 2 5anos. Ele era casado com a irmã de Meiridiane, Juciele Ribeiro, de 21 anos, que, desde que a irmã foi assassinada, não pode mais voltar para a casa. Segundo a mãe, Darci de Jesus Silva Ribeiro, de 55,o assassino de sua filha está solto e a ex-mulher dele está presa. “Como ele ameaça voltar e matar a Juciele, ela está escondida pela polícia”, comenta a mãe, dona Darci, que chora todas as vezes que fala das filhas. Ela conta que Juciele era alvo constante de violência por parte do marido. Um dia se cansou e fugiu. Por vingança, ele passou a ameaçar Meiridiane. A morte interrompeu a vida da jovem que caminhava de vento em popa.

No dia seguinte ao assassinato ela começaria a trabalhar em uma operadora de telefone. Estava também de casamento marcado para o mês que vem. Enquanto o corpo era velado em casa, dona Darci conta que recebeu um telefonema de uma loja de departamento comunicando que a filha tinha sido selecionada em um teste de emprego. Amedrontada, Darci conta que a família foi orientada pela polícia a abandonar a casa onde mora com os outros quatro filhos, mas o marido, seu Raimundo Pacheco, 66 anos, se recusou. “Daqui não saio. Nem eu nem minha família. Não cometemos nenhum crime”, afirma seu Raimundo.

ESTADO DE MINAS, 19-4-2011. Enviada por José Carlos.

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