“Vida para todos e para sempre: a Mãe Terra clama pelo Bem Viver”. É com esse tema que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) realiza, neste mês de abril, a Semana dos Povos Indígenas. A ideia é promover atividades em várias regiões do país para chamar atenção da sociedade para as lutas e reivindicações dos indígenas.
De acordo com Beatriz Catarina Maestri, antropóloga e agente do Cimi, o objetivo da semana é “sensibilizar a sociedade para com a causa indígena e contribuir com políticas públicas para as demandas dos povos indígenas”. Segundo ela, a semana acontece todos os anos com temáticas que se aproximam das destacadas pela Campanha da Fraternidade (CF).
Neste ano, por exemplo, em que o tema da CF é “Fraternidade e Vida no Planeta”, a Semana dos Povos Indígenas discute sobre o Bem Viver, modelo de vida adotado por eles. “O tema [da Semana] pretende propor a reflexão sobre os sistemas de vida experienciados por muitos povos na América Latina. O Bem Viver é o ensinamento cultivado pelos indígenas e é uma contraposição ao sistema capitalista”, explica, destacando que a perspectiva do Bem Viver é seguir um modelo de vida em harmonia com a sociedade e com a natureza.
Beatriz Catarina comenta que os povos indígenas no Brasil vivem “situações diferenciadas”, mas que possuem algumas lutas e demandas em comum. Uma delas é a ação em defesa da terra. “Muitos territórios são invadidos por fazendeiros, madeireiros e pelo agronegócio”, destaca.
Ela lembra o caso dos indígenas Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, os quais lutam há anos pela defesa de seu território e contra a criminalização de suas lideranças. “Eles lutam pela garantia de suas terras”, afirma, destacando que, assim como acontece com os Guarani Kaiowá, muitas comunidades indígenas estão em áreas pequenas que não comportam toda a população e ainda estão “rodeados de plantações do agronegócio”.
Entre os indígenas que moram em zonas urbanas, a principal reivindicação, segundo a agente do Cimi, é pelo reconhecimento. Isso porque, de acordo com ela, muitos não são reconhecidos como indígenas porque não vivem mais em aldeias. “[Ainda existe o pensamento que se] Saem das aldeias, não têm mais direitos [como indígenas]. Eles saem das aldeias, mas a cultura deles vem junto para a cidade”, ressalta, lembrando ainda outras demandas, como o direito à moradia e à saúde e educação diferenciados.
Outro ponto comum entre os indígenas brasileiros é a defesa do meio ambiente e o rechaço aos grandes projetos desenvolvimentistas, como a transposição do Rio São Francisco e as hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira; e de Belo Monte, no Rio Xingu. “São grandes projetos que causam destruição e morte que vão beneficiar o agronegócio e setores energéticos”, comenta.
De acordo com ela, esse modelo é o que faz parte da política atual e é rechaçado pelos indígenas, pois privilegia o “grande capital” em detrimento de indígenas e outras comunidades, como quilombolas e ribeirinhos. “Os indígenas questionam a política atual e mostram que é possível um outro modo de vida, o Bem Viver”, conclui.
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