Com 31 anos de idade e 13 de experiência no futebol europeu, David Suazo é a principal referência do futebol hondurenho. Atualmente na Inter de Milão, o atacante que disputou a última Copa do Mundo da FIFA, na África do Sul, é um dos jogadores que já sentiram na pele a discriminação ainda presente nos estádios.
No aniversário de dez anos da Resolução de Buenos Aires, o FIFA.com conversou com Suazo a respeito da discriminação no futebol, assim como as possíveis medidas que poderiam ser aplicadas para erradicar o racismo do planeta bola.
FIFA.com: Como você definiria a discriminação?
David Suazo: Absurda. Se eu tivesse que utilizar um termo para defini-la, seria esse. Por tudo o que já vimos, o que se sabe e se fala a respeito, não encontro outra maneira para me referir à discriminação. Quando você vê as consequências desse tipo de atitude, o que elas acarretam, só pode pensar “não é possível”. Mas infelizmente isso ainda existe, as pessoas continuam sendo discriminadas pela sua cor ou pela forma de falar.
Podemos dizer que a discriminação está relacionada com a falta de educação ou é um fenômeno que vai além disso?
É estranho, porque, se você prestar atenção, a maioria das pesssoas que faz esse tipo de coisa tem educação. Talvez no futebol, que é um esporte mais popular, possa haver algo disso, mas fora dos estádios tem mais a ver com a conveniência. Para algumas pessoas, é conveniente discriminar, é uma maneira de demonstrar poder.
Então você sente a discriminação em outros ambientes também…
Claro! Ocorre por todo lado. Vejo isso muito no âmbito das classes sociais: algumas pessoas querem fazer você sentir que não está no nível delas só por causa da sua cor de pele ou nacionalidade.
Você acha que o tema está instalado na sociedade? Estamos realmente conscientes do que está acontecendo?
Estou há 13 anos na Europa e posso dizer que, felizmente, a situação melhorou um pouco. Se dissesse que não existe mais, estaria contando a maior mentira do mundo, mas certamente dá para notar uma aceitação maior. Ainda falta trabalhar mais a respeito, porque as pessoas podem discriminá-lo por você ser negro, amarelo, falar francês ou espanhol. No futebol, em comparação com outras áreas, é mais fácil combater o problema: se jogar bem, você será adorado. Mas se for mal numa partida, voltará a ser desagradável para todo mundo.
Você já sentiu a discriminação na própria pele?
Sim, claro, me discriminaram por causa da minha cor. Na época, eu defendia o Cagliari, e o jogo era na casa do Verona. Foi uma situação horrível, sabe? Ninguém gosta de ser discriminado cada vez que toca na bola. As pessoas imitavam macacos e coisas do tipo. Não foi uma boa experiência, foi absurdo e inaceitável. Felizmente, o estádio foi multado, o que acabou sendo algo positivo.
Como foi a reação no meio do futebol? Você recebeu demonstrações de solidariedade?
Sim, recebi apoio e solidariedade. Mas não se trata apenas de um problema pessoal, é preciso apoiar todos os companheiros que são vítimas desse tipo de assédio. São episódios lamentáveis, e muita gente está consciente disso.
O que pode ser feito para combater a discriminação no futebol?
Existem medidas interessantes, como a de suspender ou cancelar um jogo quando acontecem demonstrações desse tipo. Isso é algo que dá resultado, porque os responsáveis passam a saber que não estão prejudicando apenas o seu clube, mas também todos os torcedores que estão no estádio assistindo ao espetáculo. Sei que a FIFA está lutando contra o racismo e acho isso fabuloso. É algo que deve ser feito pelo bem do futebol.
Se você tivesse a oportunidade de ficar frente a frente com pessoas que discriminam jogadores nos estádios, o que lhes diria?
A mensagem é clara: a tolerância nos faz crescer como indivíduos. Elas precisam entender que o jogador vai para outro país para realizar o seu trabalho, independentemente da cor ou da nacionalidade. Não viemos ofender ninguém, viemos apenas fazer o que sabemos, com dignidade. Não somos melhor ou pior do que ninguém. Isso é o que todos deveriam entender.
Para concluir, que figura histórica da luta contra o racismo você destacaria?
Um que ainda vive e que não deve ser esquecido é Nelson Mandela, um exemplo fiel do que deve ser uma luta. Ele conseguiu unir um país e consolidou esse vínculo graças ao esporte. Acho que devemos nos inspirar no seu exemplo e levantar essa bandeira para que possamos evoluir.
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