A escola e os muros

Uma forma de a escola lidar com a violência deve ser, por exemplo, a capacitação para identificar comportamentos e tendências de alunos como esse que chegou ao extremo da loucura sangrenta

Maurício Lara

O país ficou atônito e arrasado com o absurdo da tragédia no Rio, em que um ex-aluno invadiu a escola armado com dois revólveres e matou 12 meninas e meninos, ferindo vários outros. É difícil pensar e dizer alguma coisa sobre fatos assim, porque eles são difíceis ou impossíveis de compreender e, principalmente, de aceitar. Mas é necessário fazer todas as reflexões em torno do assunto, do desarmamento à ação de seitas que fazem a cabeça de jovens e adultos, passando pelo papel da escola e pela segurança dos estudantes.

Vereadores e deputados chamam a atenção para projetos de lei que determinam a instalação de detectores de metal nas escolas. Tanto por causa da tragédia do Rio, quanto de ocorrências cotidianas, com alunos entrando em escolas portando armas em suas mochilas, provocando constrangimentos, ferimentos e até mortes em colegas e professores. De fato, a questão é crucial, mas não há certeza de que a solução passe pelo mesmo sentido da violência, na lógica de que toda ação provoca uma reação. Será que a reação tem que ser nesse rumo?
É corajosa a posição do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que, na comoção nacional provocada pela chacina, coloca-se contra mudanças na política de segurança das escolas que levem a um “fechamento” maior dos estabelecimentos. Ele insiste que a escola deve estar sempre aberta à comunidade. Fechar e isolar a escola seria como fechar portas e, consequentemente, diminuir as alternativas que devem ser criadas no sentido contrário ao da barbárie.

Uma forma de a escola lidar com a violência deve ser, por exemplo, a capacitação para identificar comportamentos e tendências de alunos como esse que chegou ao extremo da loucura sangrenta. E, depois da identificação, o poder público precisa ter condições de tratar de cidadãos assim, antes que eles se tornem um caso perdido. Então, não é fechando as portas, é abrindo portas, no sentido mais amplo que a educação carrega.

Outra discussão que surgiu com força é a necessidade do desarmamento. Mas, junto com ela, há uma outra discussão a ser feita urgentemente. Diz respeito à facilidade de acesso às armas. Nesse discurso do olho por olho, dente por dente, se há arma de lá, precisa haver arma de cá; se há violência de lá, precisa reagir com violência de cá; se não há saída de lá, é preciso acabar com as saídas de cá. Triste!

Imaginar escolas com muros cada vez mais altos, com cerca elétrica, com detector de metais, com seguranças armados é dizer para nossas crianças que devemos manter e alimentar a paranoia do caminho sem volta, reforçando a ideia equivocada de que as pessoas de bem vivem presas e as do mal permanecem soltas pelas ruas. Escola e muro alto são uma mistura esquisita, que não combina com liberdade.

O que acontece dentro da escola repercute do lado de fora; o que acontece do lado de fora repercute lá dentro. Os muros e detectores de metal jamais serão suficientes para conter a barbárie, a banalização da vida e da morte, a falta de amor pelo ser humano. Uma das vertentes que deve ser investigada é quem fez a cabeça fraca do assassino, fazendo germinar nela essas sementes cruéis e insanas.

Por fim, a pergunta que não vai se calar: se realmente é hora de colocar detector de metal em escola, se os muros devem ser cada vez mais altos, se ir à aula para aprender é muito perigoso, por que chegamos a esse ponto? Por quê? Por quê?

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Publicada em O Estado de Minas de 9/9/2011. Enviada por José Carlos.