Brasil perde mais um Griot: Mestre Messias

Messias dos Santos

por André Luís Câmara

No fim da tarde de sábado, 26 de fevereiro, Messias dos Santos bebeu sua última cerveja no Bar do Gomez, em Santa Teresa, bairro onde morava e se tornou espécie de personagem folclórico. Mestre Messias, como era conhecido, costumava ali ser constantemente fotografado por turistas curiosos com a elegância extravagante de seu chapéu por ele mesmo pintado. Poderia ter sido mais uma tarde de sábado em que teria falado de suas canções, seus quadros, do CD gravado com a participação carinhosa de tantos músicos que o admiravam. Mas, poucas horas depois, o Mestre morria na companhia do amigo que, nos últimos anos, o acolhera com um lugar para morar.

Natural de Cataguazes, em Minas Gerais, vivia dizendo que voltaria para lá. Pensando nessa possibilidade pintou o quadro Pedacim de trem, que retrata a estação ferroviária da terra natal e do qual resplandece um amarelo carregado de muita vida. Nunca conseguia dinheiro para realizar o retorno a Cataguazes. Contava sempre com os amigos que gostavam de sua música e sua pintura e com eles trocava ideias pelas esquinas do bairro que amava. Foi assim, por exemplo, que a Casa Áurea tornou-se ponto de referência para apreciadores de seus quadros. Assim também fez parte da recente exposição do fotógrafo Ricardo Beliel, que clicou perfis de pessoas carcaterísticas de Santa Teresa. E assim foi filmado por Cecília Lang no documentárioMessias dos Santos, delicadamente nobre.

André Cunha, Pedro Lima e Cristina Bhering são apenas alguns dos muitos músicos que sempre o acompanharam em canjas dadas em bares como Simplesmente e Marcô. Acalentava a esperança de ver lançado seu primeiro CD, produzido pelo alemão Michael Sexauer, que traz canções feitas na década de 1960, no período em que viveu em Juiz de Fora, e outras dos anos 2000, como o saboroso samba Negro carioca. Caberá a Michael lançar postumamente esse tributo ao Mestre que reúne, entre outros, Tomás e Gabriel Improta, Robertinho Silva, e até um coro de crianças que remete ao antológico Minas, de Milton Nascimento.

Ao saberem de sua morte, amigos emocionaram-se num brinde ao Mestre, na esquina do Bar do Gomez, e lembraram sua obra-prima,Jongo diminuto e uma canção que diz assim: “…pra te encontrar na madrugada/ e te guardar dentro das cores”. Marcos Nogueira, o Marquinhos das marionetes, reconhecido pelos maravilhosos bonecos que faz de Cartola, Tim Maia, Raul Seixas, Gilberto Gil, entre outros, se lembra da época em que morou com Messias, em dias de completa pindaíba. “Certa vez ele vendeu um quadro. Chegou em casa e falou: ‘agora é nós’! E fomos jantar fora e beber pelos restaurantes de Santa Teresa durante alguns dias, até o dinheiro do quadro acabar”.

Messias dos Santos era assim.  Ao partir para a Eternidade, aos 68 anos, dele ficam um chapéu, um sorriso e uma herança de cores, acordes e versos. Valeu, Messias! Agora é nós!

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