Equações para justiça e igualdade racial

Matilde Ribeiro

Ela nasceu em março de 2003, é ainda uma criança. O seu nome de guerra é SEPPIR. Tornou-se um pouco mais independente nos últimos tempos, mas ainda requer cuidados e acompanhamentos. Mas ao mesmo tempo, essa criança tem grande carga de responsabilidades, a considerar os mais de 500 anos de descaso com o que constitui a sua alma – a promoção de igualdade racial. Antes mesmo de nascer, foi muito desejada e esperada pelos tantos que a idealizaram e a projetaram como uma fatia do pagamento de uma dívida que não foi acumulada pelos que estão atualmente no poder, mas que faz parte de seus instrumentos que projetam justiça e equidade.

O seu nascimento não foi natural, deu-se por longas, pesadas e esperançosas passadas. Convencimentos de que o mal do racismo deixou suas marcas históricas de exclusão e desconsiderações diretas para mais da metade da população. Convencimentos de que a vivencia de uma democracia efetiva requer uma grande dose de respeito às diferenças. Para a sua concretização foi necessário transpor muitas barreiras e ignorâncias. Ficou provado que o mesmo Brasil que por séculos produziu e alimentou a vergonha da escravidão pode salvar-se dos desequilíbrios e turbulências (muitas vezes tsunamis), causados pelo racismo, machismo, homofobia entre tantos outros fatores que geram desigualdades. Por isso é importante reforçarmos a onda da efetiva proposição para mudanças estruturais combinada com a vontade política, incluindo os negros e brancos, mulheres e homens como filhos de uma mesma pátria. Portanto, seres humanos com direitos iguais, além das regras e formalidades. Isto é, cidadãs e cidadãos com direitos iguais na vida, no cotidiano. O Presidente Lula, ao entender a equação construída pelo movimento negro em sua proposição para impulso de ações para a igualdade racial, incrementou o que já vinha sendo ensaiado desde a Constituição de 1988 (ou mesmo desde a abolição). Também delegou a ministra, ministros, gestores e servidores a responsabilidade de construir as bases para o desenvolvimento desta tão almejada política. O povo brasileiro, principalmente o povo negro, agradece. Agora, no campo governamental, utilizando o jargão futebolístico, a bola está com a Presidenta Dilma Rousseff. Como afirmado na campanha eleitoral de 2010, é esperado além da continuidade, o fortalecimento e o aprimoramento das politicas inclusivas, em especial as que combinam com ações afirmativas, como por exemplo – igualdade racial, direitos da mulher, direitos humanos. Quanto à politicas de igualdade racial, a bola está também com a Ministra Luiza Bairros. AXÉ Luiza, desse riscado você entende! O desejo é que os bons ventos a acompanhem para que possam ser cumpridas as expectativas de grandes e construtivos diálogos entre governo, movimento negro, mulheres negras e toda a sociedade. A criança Seppir, nascida há apenas sete anos e nove meses, para tornar-se adulta, forte e autônoma, necessita de intensa ação coletiva (dentro e fora do governo) com grande somatória de energia para sua consolidação. Que se cumpra a missão! Certamente, o povo brasileiro, principalmente o povo negro agradecerá.

Matilde Ribeiro

Ex-ministra da igualdade racial

http://africas.com.br/site/index.php/archives/6467

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.