Dom Pedro Casaldáliga recebe prêmio Dom Hélder Câmara; Dom Manuel recusa-o

Dom Pedro Casaldáliga na sua casa em São Felix de Araguaia (foto: Eden magalhães/Arquivo Cimi)

Além do bispo emérito, receberam o prêmio de Direitos Humanos do Senado dois defensores públicos e um deputado estadual. Outro nomeado, Dom Manuel Edmilson da Cruz, recusou o prêmio em protesto ao aumento salarial do congresso.

Ontem, 21 de dezembro, o Senado outorgou pela primeira vez a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, um prêmio que visa reconhecer e homenagear pessoas que se destacam na luta pelos Direitos Humanos no Brasil.

Bispo dos Pobres

Dom Pedro Casaldáliga recebeu uma homenagem pela senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Ela se emocionou ao falar da vida e da obra de Casaldáliga: “Um guerreiro, símbolo da luta pelo direito à terra, que dedicou sua vida à justiça social, por uma vida melhor para os pobres deste Brasil”. Destacou que Dom Pedro se baseia na teologia da libertação, adotando como lema para sua atividade pastoral “nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e sobretudo nada matar”.

Citando um texto de Frei Betto a senadora lembrou da posição radical de Dom Pedro contra o sistema capitalista, que ele tem chamado de pecado mortal: “Quando o capital é neoliberal, de lucro onímodo, de mercado total, de exclusão de imensas maiorias, então o pecado capital é abertamente mortal”. A Senadora fechou sua fala, saudando Dom Pedro como bispo dos pobres, bispo dos despossuídos, bispo dos discriminados.

Como Dom Pedro está com problemas de saúde, ele recebeu o prêmio através do representante Eden Magalhães, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário, entidade da qual o Bispo Emérito é um dos fundadores.

Recusa do prêmio

O Bispo Emérito de Limoeiro do Norte (CE), Dom Manuel Edmilson da Cruz, usando da palavra, agradeceu pela comenda, porém, explicou que não podia aceitar o prêmio.

“Sinto-me primeiro, perplexo; depois decidido. A condecoração hoje outorgado não representa a pessoa do cearense maior, que foi Dom Hélder Câmara. Desfigura-a, porém. […] Só me resta uma atitude: recusá-la! Ela é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuintes para o bem de todos, com o suor do seu rosto e a dignidade de seu trabalho. É seu direito exigir justiça e eqüidade em se tratando de honorários e de salários. Se é seu direito e eu aceitar [o prêmio], estou procedendo contra os Direitos Humanos. Perderia todo o sentido este momento histórico. O aumento a ser ajustado deveria guardar a mesma proporção que o aumento do salário mínimo e da aposentadoria. Isto não acontece. O que acontece, repito, é um atentado contra os Direitos Humanos do nosso povo”.

Interrompendo a resposta do presidente da mesa a sua declaração, acrescentou ainda: “Isso é um grito de um ser humano ferido!”

No momento da solenidade, estudantes universitários realizaram um protesto em frente ao congresso contra o aumento salarial dos parlamentares.

Os nomeados

A Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara será outorgado anualmente a cinco pessoas que se destacam na luta em prol dos direitos humanos no Brasil. Para esta primeira edição, a Comissão de Direitos Humanos do Senado nomeou cinco pessoas, sendo eles:

  • Bispo Emérito de São Felix do Araguaia (MT) Dom Pedro Casaldáliga
  • Bispo Emérito de Limoeiro do Norte (CE) Dom Manuel Edmilson da Cruz
  • Defensor Público do Município de Abaetetuba (PA) Antônio Roberto Figueiredo Cardoso
  • Defensor Público da Comarca de Taubaté (SP) Wagner Giron de La Torre
  • Deputado Estadual de Rio de Janeiro Marcelo Ribeiro Freixo.

Dom Hélder Câmara

O prêmio, instaurado este ano, leva o nome de Dom Hélder Câmara por sua luta coerente pela justiça e pelos Direitos Humanos, travada em plena ditadura e a pesar de pressão e inúmeras ameaças de vida contra ele.

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5214&eid=257

Comments (1)

  1. muita coragem esse pispo edmilsom tem! além de tudo, nada contra os homenageados, nem o mérito do prêmio, o senado só reconhecem os homens como defensores dos direitos humanos! talvez seja a distância…

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