“Uma confluência de abordagens recentes, oriundas de campos de debates distintos, tem apontado para o desenho de um campo temático novo, que fica a meio caminho entre a História e a Antropologia; entre a sociologia do campesinato e os estudos de etnohistória; entre a reflexão sobre os modos sociais de lembrar e de abordar o tempo e a historiografia de temas consagrados como a terra e a escravidão.
A emergência de um movimento social quilombola e sua demanda pelo reconhecimento de direitos territoriais reivindicados com base em um modo de ocupação tradicional deu lugar, por sua vez, à produção de “laudos antropológicos” de identificação territorial, ao modo do que já ocorria no caso das áreas indígenas. Tais trabalhos, centrados fundamentalmente na abordagem da memória da ocupação e dos usos sócio-culturais do espaço, acabaram despertando grande interesse pelas evidências históricas inéditas que foram capazes de gerar, absolutamente desconhecidas, ou ao menos desconsideradas, pela historiografia tradicional.
Isso gerou tanto conflito quanto interesse no diálogo por parte de historiadores e antropólogos, permitindo a afluência de interpretações oriundas dos campos de estudos sobre a posse e propriedade da terra no oitocentos; sobre as rebeliões escravas e quilombos; sobre tradições e redes sócio-religiosas e rituais escravas; sobre os lugares do tráfico ilegal de escravos; sobre a família escrava, sobre etnohistória e sobre o período pós abolição. Sugerimos que um Simpósio sobre o tema dos Territórios Negros possa servir como espaço de convergência e debate entre os aportes trazidos por estes campos, somados aos materiais levantados diretamente no exercício de produção dos citados ‘laudos antropológicos'”.
Bibliografia:
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http://www.snh2011.anpuh.org/simposio/view?ID_SIMPOSIO=488